MARIQUINHA - by Lucas
2ª. PARTE
O CAÇADOR
Eu morava na roça e não sabia nada. Era um matuto do “rabo grosso”, como se dizia na época, que não queria morar na cidade.
Na roça eu trabalhava, eu me divertia, eu caçava. Já estava com mais de vinte anos e nem queria saber de casamento.
Não queria saber de mulher ao meu lado; aos domingos, por exemplo, eu chamava a minha parelha de vira-latas, jogava a espingarda nas costas e ia para as brenhas do sertão matar a paca, a cotia ou outra cacinha menor. Uma vez matei uma narizuda, anta. Que dó! O bicho era muito grande e eu não conseguia levá-lo para casa, pois estava sozinho. Tive de deixá-lo lá na mata para repasto dos animais carnívoros.
Jurei nunca mais atirar numa “trombuda” e cumpri o juramento.
Hoje em dia é proibida, por lei, a matança de aves e animais selvagens. São do governo. Naquele tempo não eram, podia-se caçar à vontade. O pessoal vinha do sertão com as caças nas costas e, na cidade, no meio da rua, deixavam-se fotografar com os seus troféus (os animais e aves mortos). Era uma grande façanha ser caçador, recebendo elogios das pessoas que passavam.
Era nessa vida que eu estava entranhado, rebelde, acostumado, estaria até hoje se não fosse a roda da sorte em seu ciclo impreciso dar algumas cambalhotas.