O SÉCULO 20 - 6ª PARTE.
 

                 POR  SMELLO.



                          O VELHO SULTÃO E O JOVEM TURCO

   A Rússia e a Turquia, antes mesmo da 1ª Grande Guerra, eram nações
inimigas perenes, após aquele catastrófico acontecimento procuraram seguir novos caminhos, e tinham nas adversidades que advieram da macabra experiência a determinação de reformularem suas políticas, internas e externas.
 
   A Russia introduziu profundas transformações com a implantação de um sistema socialista, nascendo em conseqüência a União Socialista Soviética, que assombrou todo o Mundo, um experimento atraente. A Turquia, também, corajosamente quebrou a história do mundo islâmico, retirando o tradicional véu de sua milenar vida.
 
   Inegavelmente dessas duas inovações, a da Russia  exerceu, por algum tempo, maior influência, absorvendo uma legião de admiradores por todo o
mundo. Contudo, os eventos islâmicos foram mais dominantes, pois o islã
mesmo contido não foi derrotado. Tanto é certa essa comparação, que ao
chegarmos no final do Seculo XX, o islã, e não o comunismo, demonstrava
maior vigor.
 
   Convém lembramos que o império otomano era tão vasto em 1.900 que alcançava TRÊS CONTINENTES e continuou a ser a força predominante na Ásia Menor e na região dos Bálcãs, permanecendo governado por figuras
do Velho e Novo Testamento, subjulgados pelos sultões, cujos prestígios advinham dos califas, representantes de Maomé.
 
   A cidade sagrada de Meca ficava localizada no centro daquele Império, determinando a construção de uma grande ferrovia que ia do Mar Mediterrâneo até Medina, visando acelarar a PEREGRINAÇÂO ANUAL.
 
   Os turcos dominavam o Império, mantinham o exército sob o comando de seus oficiais e, paralelamente, forneciam funcionários para todos os serviços públicos. Vez por outra, nacionalistas turcos tentavam introduzir a democracia, com o objetivo de substituir o sultão e romperem os pilares da
tradição, determinando em 1.908 chegarem ao poder, auxiliados por forças
militares da Alemanha. 

                        A ASCENSÃO DO JOVEM TURCO

    Um jovem oficial turco, após a derrota de seu país na 1ª Grande Guerra, deu início a uma nova nação, quando o império otomano estava destroçado

    MUSTAFÁ KEMAL nasceu no porto da cidade de Salônica,HOJE INTEGRADA À GRÉCIA. Sua origem modesta, filho de um subalterno oficial otomano, que se julgava superior na hierarquia militar, tinha como mulher uma jovem mais nova do que ele 20 anos, que entretanto exerceu notável influência no filho. Mustafá tinha cabelos claros e olhos azuis, com acentuado senso de dever e orgulho, embora fosse tímido. 

    Mustafá foi criado na religião islâmica, porém como um dos avós era profundo conhecedor do Alcorão, sentia profunda admiração pelos costumes ocidentais, que começava a tomar corpo naquele porto cosmopolita. Esse avô ficara radiante quando pôde tirar as amplas calças em forma de balão, usada obrigatoriamente pelos garotos, passado a vestir o neto com um uniforme ocidental, depois de sua ida para o colégio militar. 

     Ao contar cerca de 20 anos Mustafá já era major, se condoia com sofrimento  do império otomano que lutava para sobreviver. Na época, deslocou a tropa sob seu comando para a Libia, onde de fora do porto de Tobruk impediu que os italianos
avançassem rumo ao interior. Seus colegas de farda notaram a habilidade em dar ordens e tática em terrenos elevados.

    Nutria esperanças de um dia poder modernizar a Turquia, o que mais se acentuou
ao conhecer um homem que se tornaria sultão. Em 1.917 ao participar de uma delegação à Alemanha para tratar das contingências da guerra, notou a presença de uma autoridade de hábitos polidos, fazendo com que se concentrasse no que vira, gravando em pensamentos profundos. Aquele homem nada mais era que o futuro sultão Maomé VI, que não conseguiu demonstrar a liderança de que um imperio derrotado precisava. Tal, possibilitou que os vitoriosos aliados ocupassem Constantinopla e outras regiões do Pais,
e MUSTAFÁ subiu ao poder. 

    Como lider do Movimento Nacional Turco em 1919, expulsou as forças gregas, sem o apoio da Grã-Bretanha, França e dos Estados Unidos, ocupou o porto de Esmirna e grande áreas interioranas, tornando-se uma vez mais o herói nacional. Essa campanha foi tão rápida que 180 mil refugiados gregos e armênios fugiram da Asia Menor para a Grécia. As táticas empregadas por Mustafá eram tão inteligentes que em setembro de 1.922, seu exército estava em condições de retomar o Estreito de Dardanelos e até invadir a Península de Gallipoli. 

    Os aliados surpresos com o rumo dos acontecimentos reuniram-se em Lonfres, confidenciaram que ser inconcebível permitir que os turcos viessem 
tomar a Península de Gallipoli e com o reforço Britânico rumaram com navios de guerra, cruzadores, uma esquadra de submarinos e destroiers, navios de transporte de tropas, este vindos de Gilbraltar, Malta e Egito, além de aeronaves, faziam crer, por algumas semanas, uma nova guerra. Mas, os aliados estavam divididos, a França desistira de sua participação e a própria Grã-Bretanha hesitava. Com isso, Mustafá Kemal conseguiu quase tudo que queria. O terrítorio de Gallipoli passava a pertencer outra vez à Turquia, e os aliados por sua vez retiraram seus exércitos de ocupação de Constantinopla.

     O triunfo da Turquia graças a Mustafá Kemal tornou-se fatídico para a Grã-Bretanha e França. 

     Havia dois governos na Turquia nessa ocasião, um chefiado pelo tímido sultão Maomé VI, na então ocupada Constantinopla e outro liderado pelo agressivo Mustafá Kemal, em Âncara. 

    Uma vez mais Kemal toma a iniciativa, pede ao sultão para dimitir os ministros que ele nomeara em Istambul. Maomé VI recusou a solicitação de Kemal, isso determinou a convocação da Assembléia Nacional, que há 1º de novembro de 1.922, com apenas um voto contra, proclamou a República da Turquia e depos de imediato o sultão. Este se asilou, primeiro numa ilha islâmica, depois em Meca e finalmente em San Remo com
três das suas esposas, morrendo de apoplexia em maio de 1.926.
 
    A longínqua Ancara passou a ser a capital da Turquia, porque Kemal entendia estar 
longe do mar, motivo impeditivo de um possível ataque dos gregos ou outro invasor. Mas Ancara era desprovida de recusos sanitários, sendo invadida pelos mosquitos da malária provenientes do pântano próximo à estação de trem, originando uma grande epidemia de malária. Apenas em 1.925 houve progresso na capital, com a construção de uma central telefônica e uma estação de rádio, e já contava com 50 mil habitantes. 


                      A LUTA PELA EXTINÇÃO DO BARRETE E VÉU


    Kemal domou o islã com passos lentos e silenciosos. Já em 1.924 pregou
que a mulheres mostrassem seus rostos e abominassem o véu. Enquanto 
para os homens incentivou o desuso do barrete, simbolo do homem turco 
respeitável, que ele próprio usara, vermelho, macio e grande. O barrete identificava o homem pertencer ao islã.
 
    O lider não entrou pessoalmente em uma mesquita para refazer os rituais e
preces, mas tratou de introduzir algumas mudanças por decretos seus. Assim, os
anúncios de preces vindas das torres das mesquitas deveriam ser feitas em 
turco e não em árabe. Os sacerdotes não poderiam trafegar pelas ruas com 
suas roupas tradicionais. Modificou também o uso de bebidas, proibidas por
interdição islâmica, facilitou a privacidade, um pouco mais tarde, possibilitando
também em público.
 
    Dez anos depois da expulsão do califa, a Turquia oferecia outras condições 
de vida ao seu povo. Até a hora marcada nos relógios foi modificada. O dia
solar dos mulçumanos marcava o tempo a partir do nascer do sol, foi substituido,
passou a iniciar-se a partir de meia-noite.
 
    Os numerais internacionais passaram a vigorar, bem assim, o alfabeto latino
e os sobrenomes dos indivíduos se tornaram obrigatórios.
 
   Constantinopla, nome advindo do grego foi alterado para Istambul e Ancorá
passou a confirmar-se como Ancara.
 
   A posição da mulher se tornou mais evidente, embora primeiro nas cidades 
do que nas fazendas, porém tal se dava mais em público que na vida privada.

    O direito do homem de poder se divorciar de sua mulher ou de uma de suas esposas, deu lugar a uma nova lei sobre o divórcio, tipo adotado na Suiça.
 
    As mulheres obtiveram direito ao voto nas eleições parlamentares e 18 delas conseguiram alçar lugar na assembléia já em 1.935.

    As filhas adquiriram os mesmos direitos dos filhos, ao concorrerem  às heranças.
 
    As mulheres puderam  ingressar no Poder Judiciário e logo chegaram aos cargos de Juizas.
 
   O primeiro concurso de beleza ocorreu com a desaprovação das mulheres
mais velhas, que ainda usavam o véu.
 
    Kemal  transformou a vida social na Turquia e desejava revigorar a economia, porém, teve de enfrentar dificuldades, pois as lojas e bazares tornaram-se morosas, uma vez
que os homens espertos em negócios das cidades do velho império já não mais estavam lá, pois gregos, judeus e armênios deixaram a Turquia e voltaram às suas origens. 

    Os méritos do furacão ATATÜRK foram ávido e furiosamente debatidos nos 
países islâmicos vizinhos. Por que Atatürk (pai dos turcos), Kemal, já próximo ao
fim de governo substituiu seu primitivo nome para aquele que dava mais expresão
junto ao povo.
 
    O rei do Afganistão, Amamullah, tentou introduzir no seu país as medidas
implantadas por Mustafá Kemal, embora com precaução, enfrentando protestos 
nas cordilheiras e desfiladeiros, e em 1.929 foi obrigado a se exilar, por imposição dos lideres muçulmanos. Já no Irã, por volta de 1.935, renegou-se ouso do véu, e os protestos contra os novos modos seculares, ora aumentava,ora diminuia, entretanto,
meio século mais tarde voltou a vigorar as leis religiosas então abolidas, com o retorno à patria do lider o Aiatolá Komeine. A mesquita sobrepôs-se à vida cotidiana, a urna eleitoral passou a ser considerada um PEQUENO CAIXÃO, do que o LAR DA LIBERDADE.


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 OBSERVAÇÃO - No próximo capítulo, a ser publicado,   discorreremos sobre os grandes inventos implantados no MUNDO, sob o signo de CADA VEZ MAIS RÁPIDO. Os primeiros automóveis e as barulhentas motocicletas, causaram MEDOS e ENCANTOS. O VÔO em uma máquina estranha. O novo REI DO PETRÓLEO.
O RAIO X . AS BARREIRAS contra a ascensão de HITLER. A voz
de EINSTEIN. 

    Como sempre alertamos. esta narração é meramente uma
condensação, mais detalha e com proverbial profundidade os 
interessados poderão encontrar em "UMA BREVE HISTÓRIA DO SÉCULO XX", do Professor GEOFFREY BLAINEY.