Resenha do Artigo: A África contemporânea: dilemas e possibilidades de Muniz Ferreira.
Muniz G. Ferreira possui Licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Docente de História Moderna e Contemporânea. Pesquisador da História do Brasil Contemporâneo (século XX) e analista das relações internacionais (séculos XIX e XX). Estudioso do marxismo clássico e dos movimentos sócio políticos inspirados na tradição marxista. Investigador da História das formações de extrema-direita no Brasil e no mundo. Colaborador de publicações periódicas de caráter acadêmico como Cadernos CRH, Caderno do CEAS, Plurais, Crítica Marxista e Contexto Internacional. Co-autor das obras coletivas: A Segunda Guerra Mundial um balanço histórico (1995), Marx e Engels na história (1996), América Latina e Europa Centro-Oriental. Perspectivas para o Terceiro Milênio (1996), Carlos Marighella, o homem por trás do mito (1999), Dicionário Crítico do Pensamento da Direita. Idéias, Instituições e Personagens (2000) e Friedrich Engels e a Ciência Contemporânea (2007). Atualmente é professor adjunto de História Moderna e Contemporânea do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia, participa do Laboratório de Estudos Internacionais (LABMUNDO) da Escola de Administração/UFBA. Desenvolve pesquisa sobre as atividades artísticas, científicas e culturais da intelectualidade comunista brasileira no século XX. Orienta alunos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) em História na UFBA e UFPE.
Em seu artigo, Muniz Ferreira faz um balanço da situação mundial do mundo pós-segunda guerra mundial, e de como se encontram os países africanos e asiáticos que foram colonizados pelas grandes potencias mundiais. Esclarece como se deu o processo de independência desses países neocolonizados e das marcas que foram deixadas pelos países colonizadores. Partindo para outro momento, o autor se concentra nas mazelas do neocolonialismo, do subdesenvolvimento, e da guerra fria, e de como a África se viu às voltas com a necessidade de lutar por sua independência econômica.
Pode-se afirmar que as independências que ocorreram na África a partir de 1950 constituíram um importante marco na História mundial contemporânea, pois trouxeram para o sistema internacional mais de 50 países independentes, que têm procurado influir neste sistema, por buscar formas alternativas de desenvolvimento. Juntamente com os países asiáticos, formam a maior parte do “Terceiro Mundo”, por terem as características comuns de sofrerem com o subdesenvolvimento e com o passado colonial recente. Isso dá um novo perfil às necessidades mundiais, que acarreta na introdução de novos temas e novas demandas de transformação do sistema internacional.
O autor afirma: “Dilacerada internamente, politicamente instável e economicamente estagnada a maioria dos países do continente africano ainda teve que lidar com as transformações verificadas na vida internacional nas últimas duas décadas do século XX”. Essas transformações encontram lugar no admirável mundo novo da terceira revolução industrial, que, para um continente como a África, atrasado, acentua-se a sua subalternidade econômica.
A maioria das independências que foram conquistadas pelo continente na segunda metade do século XX, não resolve de maneira efetiva os problemas internos da heterogênea África. Essas independências mostraram as fragilidades dos novos países, e que, as fronteiras herdadas do período colonial acentuam a ausência de quadros qualificados em número suficiente para ocupar postos na economia e na administração dos Estados Independentes, bem como a situação neocolonial imposta pelas ex-metrópoles.
Entende-se neocolonialismo como sendo uma relação de dependência e de manutenção da exploração entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, numa relação de troca desigual. Com isso, a condição que a maioria das ex-colônias submeteram-se, estão relacionados a tratados e acordos bilaterais com a antiga potência colonial ou com os EUA, referentes à cultura, economia, e acordos militares, e como consequência, colocam esses países africanos a mercê de atividades econômicas do período colonial. Parece-me que africanos, ainda continuam a viver da terra, num quadro que mescla produção para subsistência e super-exploração capitalista.
No último sub tópico do artigo, o autor abordou o tema da União africana, no qual afirma: “Os objetivos da UA não são pequenos, como não é pequeno o tamanho dos desafios que terá de enfrentar” e afirma ainda mais: “A medida em que o mundo se torna cada vez mais assimétrico, excludente e inseguro, em que as próprias economias avançadas promovem a formação de grandes blocos regionais, parece não haver alternativa para as nações africanas a não investir decididamente nesta proposta ser de unificação, capaz de otimizar o aproveitamento das grandes riquezas do continente, fortalecendo sua posição negociadora e estimulando os intercâmbios econômico, científico e cultural entre os povos da região. Acima de tudo, parece ser uma oportunidade absolutamente original de reconciliar a África consigo mesma, com suas belezas e seus defeitos, com seus valores e tradições, com sua riqueza e diversidade. É uma chance de encarar seu passado sem as pressões do colonialismo e das rivalidades interestatais, na perspectiva de uma melhor compreensão de seu complexo presente e ante o horizonte da construção de um grande futuro.”
A África é um continente com diversos países que atuam independentemente entre si o que acarreta na fragilidade do continente. Esse seria um dos problemas do não avanço do continente africano, no caso, sua heterogeneidade. Não que isso seja um problema em si, mas, no caso desse continente, predominantemente diverso e plural linguisticamente, culturalmente e socialmente, caracteriza-se como um problema. O apaziguamento dessas divergências dentro do continente africano ocasionaria uma unidade territorial e nacional, formar essa unidade identitária frente ao Imperialismo serviria de escudo para o seu desenvolvimento.
Se a África fosse uma federação como Brasil, sendo controlada por apenas uma União, que é o país, sei que seria impossível, mas, se me cabe uma com licença histórica, veríamos que os conflitos existentes poderiam ser menos problemáticos.
Se a África fosse ainda formada de estados membros, seria menos problemática a sua administração. Não desconsiderando que a formação do Estado Nacional brasileiro foi complexo e problemático, mas, que no decorrer do final do Império e início da República foi se delineando e tornando-se no decorrer dos séculos um país, com língua única, o que contribuiu de certa forma para sua estabilidade nacional.
Se a África, deixasse de ser um continente formado por diversos países e se tornasse um país único, ou seja, uma federação com estados membros e municípios, seria menos problemática para sua administração e resistência frente ao imperialismo. A África é um colosso composto por uma diversidade assombrosa, que perpassa pelos campos linguísticos (dialetos), religiosos, políticos, culturais, sociais, e territoriais, isso nada contribui para um processo de identidade nacional.
Pensando nisso, traço um paralelo a antiga URSS, sendo esta uma República também colossal. As forças que contribuíram para instabilidade administrativa da URSS, também tem lugar na pluralidade linguística, cultural, social, religiosa e territorial.
Encontravam-se como cenário desta instabilidade, a região do Cáucaso – Geórgia, Armênia e Azerbaijão – que se caracterizava por conflitos linguísticos e religiosos. Nessa área havia também cristãos e muçulmanos xiitas, que possui características mas díspares do que semelhantes. E outra região problemática era os Bálcãs – Estônia, Letônia e Lituânia – sendo caracterizada por conflitos separatistas.
Retornando aos conflitos territoriais no Cáucaso, na época da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, era possível encontrar nesta região: cem etnias, duas religiões modernas, que eram o islamismo, budismo, e cinquenta e duas seitas cristãs, oitenta línguas e cinco alfabetos. Com essa heterogeneidade absurda fica difícil manter uma identidade nacional estável frente a um programa ideológico consistente e unitário, que o sistema capitalista empreendeu durante a Guerra Fria, um programa de contenção aos países ditos comunistas. Programa tão devastador que contempla e perpassa todo o século XX e entra no século XXI.
Pensando no continente africano e da sua instabilidade política e da não união federativa desses países, as grandes potencias mundiais imperialistas se aproveitam de políticas internacionais para materializar o seu domínio nesses débeis e ricos países que compõe o continente.
Enfim, sou categoricamente a favor da assertiva do autor, no que tange a uma união africana, a UA precisa colocar em prática seus planos de emancipação e unificação do continente. A África tem tudo para dar certo, mesmo com os seus dilemas, vislumbram possibilidades colossais.
Referências:
FERREIRA, Muniz. A África contemporânea: dilemas e possibilidades. 12f.