HOBSBAWN, Eric J. "A Revolução Francesa". In: A Era das Revoluções - 1789 - 1848. Editora: Paz e Terra. 2005.

Contexto, causas e características da Revolução Francesa (também conhecida como uma das Revoluções Burguesas)

A França do século XVIII era caracterizada como um país absolutista, onde o rei governava com poderes absolutos. Controlava a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião dos seus súditos. A sociedade encontrava-se estratificada e hierarquizada. No topo da pirâmide social, estava o clero, que também tinha o privilégio de não pagar impostos.

Abaixo do clero, estava à nobreza, formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres. A base da sociedade era formada pelo Terceiro Estado (trabalhadores, camponeses, sans culottes e burguesia) que, sustentava toda a sociedade com seu trabalho e com o pagamento de altos impostos.

A vida dos trabalhadores e camponeses eram de extrema miséria, por isso, desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A burguesia (jacobinos e girondinos), mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma participação política maior e mais liberdade econômica em seu trabalho.

A França apoiou a independência das antigas Treze Colônias inglesas (o atual EUA, eis A Estátua da Liberdade, presente da França), segundo Hobsbawn, essa foi a causa direta para desencadear a Revolução. Com convocação dos Estados Gerais - que foi aclamada para solucionar a crise financeira que a França se encontrava - o Terceiro Estado (trabalhadores, camponeses, sans culottes e burguesia) teve a chance de mostrar o seu poder.

Como não havia líderes que representasse o Terceiro Estado (trabalhadores, camponeses, sans culottes e burguesia) dentro de suas estratificações sociais, o grupo social que teve maior destaque foi a burguesia(jacobinos e girondinos), que neste momento, já encontrava-se organizada tanto politicamente quanto socialmente.

Essa burguesia era essencialmente comercial e defendia o liberalismo econômico. A revolução foi feita por esse grupo social emergente. As exigências desse grupo foram expressas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que como fala brilhantemente Hobsbawn, foi um documento contra a sociedade hierárquica de privilégios de nobres, não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária.

A Revolução Francesa foi predominantemente burguesa (jacobinos e girondinos), porque, mesmo com a presença de outros grupos sociais de grande massa neste fenômeno, foi justamente a burguesia que teve presença política e intelectual dentro do Terceiro Estado (trabalhadores, camponeses, sans culottes e burguesia), e com o apoio das massas de camponeses e trabalhadores que ganhavam em maioria como representantes dentro da Assembléia Nacional, a burguesia teve sua força para convocar os Estados Gerais.

Sujeitos Envolvidos

A Revolução Francesa foi sem dúvida uma revolução social, pois os sujeitos envolvidos estão longe de serem homogêneos.

Estes são:

os girondinos: burguesia moderada que tinha participação na Assembléia Constituinte com intenções liberais, eram contra o terror e a execução do rei, de linha mais ideológica.

jacobinos: burguesia liberal radical a favor do terror

sans-culottes: Trabalhadores pobres, pequenos artesãos, lojistas, artífices, pequenos empresários que estavam organizados por seções, sendo os verdadeiros manifestantes, agitadores, construtores de barricadas.

camponeses: homens que viviam nos campos em áreas rurais que ocasionaram movimentos vastos, disformes, anônimos, mas irreversíveis. A epidemia que acionou a inquietação camponesa e espalhou de forma obscura e eminente levando o país ao Grande Medo.

Pode-se dizer que o Terceiro Estado (trabalhadores, camponeses, sans culottes e burguesia) tinha a "faca e o queijo nas mãos", pois, os burgueses moderados (girondinos) e radicais (jacobinos) eram os intelectuais e politizados que deram forma política ao movimento, e com o apoio dos camponeses e dos sans culottes que eram a grande massa do movimento, mas que, não tinham nenhuma consciência política, deram assim lugar, para que os burgueses controlassem todas bandeiras da revolução.

Fase do Terror 1792-1794 (Período da 1ª República Francesa e da Convenção Nacional)

Essa fase durou apenas dois anos, mas fez milagres, pois recuperou a França da crise financeira na qual estava afundada, por terem apoiado a independência das antigas Treze Colônias (atual EUA). Robespierre, líder jacobino (burguesia liberal radical a favor do terror) criou o Terror (1792-1794) como único método efetivo de preservação de seu país. O qual mandava para guilhotina todos e quaisquer suspeitos que fossem contra aos "ideais revolucionários". A guilhotina serviu como uma espécie de extensão da revolução, pois controlava "traidores" e opositores em potencial.

Nessa época, Robespierre (burguesia liberal radical a favor do terror) consegue manter a situação econômica da França estável, e também mantém sobre controle os invasores, triunfando militarmente. Deu-se ao povo o direito ao sufrágio universal, o direito a insurreição, trabalho e subsistência, tendo uma Constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado Moderno. Foi abolido todos os direitos feudais remanescentes, aumentando assim, as oportunidades para o pequeno comprador adquirir as terras confiscadas dos emigrantes.

Essas transformações capitalistas deram base para o rápido desenvolvimento econômico. Esses fatores seriam as causas da visão da durabilidade dessa fase, apesar das mortes que aconteceram, como a de Danton, que foi um líder girondino (burguesia moderada que tinha participação na Assembléia Constituinte com intenções liberais, eram contra o terror e a execução do rei, de linha mais ideológica) e até mesmo a do próprio Robespierre (burguesia liberal radical a favor do terror), eles foram tragados pela própria revolução que iniciaram.

Fazendo um paralelo com o Chile do século XX, na época do ditador Pinochet, o mesmo foi acusado por várias mortes de pessoas que foram opositoras ao seu governo militar apoiado pelos EUA. Durante a sua sentença de prisão por crimes contra a humanidade, milhares de pessoas foram às ruas contra a sua prisão, porque ele transformou o Chile economicamente e elevou o pais ao desenvolvimento dentro da América Latina. Voltando para a Revolução Francesa, penso que o Terror (1792-1794) reconstitui a França em todos os sentidos (politico, econômico e social).

Napoleão I ( Com o 1º Golpe do 18 de Brumário de 1799, inicia-se a fase do Consulado até 1804, depois o Império 1804-1814 e por fim o Governo dos Cem Dias em 1815) e a importância do Exército

A revolução transformou toda a Europa, por varrer todo o sistema político absolutista e o feudalismo. O período revolucionário que perpassa a Monarquia Constitucional (1791-1792) e o Diretório (1795-1799 Girondinos) a deram as bases para sistema liberal ser implantado e solidificado.

O exército surge como solução para resolver as guerras contra Áustria e a Prússia. Napoleão I como chefe do exército resgata o governo com grande superioridade militar, pois vence brilhantemente as batalhas. Antes de Napoleão I, tinha-se um exército que era composto por uma massa de cidadãos revolucionários, com levas improvisadas de soldados e recrutas mal-treinados, que depois dele, transformou-se numa força de combatentes profissionais que adquiriram treinamento e moral através de velhos e cansativos exercícios, em que, era desprezível a disciplina formal da caserna. Os soldados eram tratados como homens de regra absoluta e tinham promoção por méritos (que significava distinção na batalha), assim, produziram uma hierarquia simples de coragem que motivavam os soldados a ascensão militar.

O exército foi amparado por uma indústria de armamentos minimamente adequada as suas necessidades triviais. Em resumo, foi um exército que conquistou toda a Europa, podendo ser como qualquer carreira aberta para o talento na revolução burguesa, e os que nele obtiveram sucesso, tinham um interesse investido na estabilidade interna como qualquer outro burguês. Com isso, Bonaparte (Napoleão I) tornou-se a pessoa adequada para concluir a revolução burguesa e começar o regime burguês monarquista. No qual Hobsbawn, diz ser uma típica mistura Bonapartista.

Napoleão I sobrevive à morte de Robespierre, tornando-se cônsul (1799-1804, por meio do Golpe do 18 de Brumário) e depois imperador (1804-1814), resolveu os problemas do Diretório, do Código Civil, fez uma concordata com a Igreja e criou um Banco Nacional, o que deixou a França numa estabilidade política e econômica.

Hobsbawn, refere-se a Napoleão I (Cônsul 1799-1804 e Imperador 1804-1815) como sendo um homem de mil virtudes, lhe fez diversos elogios: "Como homem ele era inquestionavelmente muito brilhante, versátil, inteligente e imaginativo, embora o poder o tivesse tornado sórdido. Como general, não teve igual; como governante, foi um planejador, chefe e executivo soberbamente eficiente e um intelectual suficientemente completo para entender e supervisionar o que seus subordinados faziam. Como indivíduo parece ter irradiado um senso de grandeza, mas a maioria dos que deram esse testemunho, por exemplo, Goethe, viram-no no auge de sua fama, quando o mito já o tinha envolvido. Foi, sem sombra de dúvidas, um grande homem e -talvez com a exceção de Lênin - seu retrato é o que a maioria das pessoas razoavelmente instruídas, mesmo hoje, reconheceriam mais prontamente numa galeria de personagens da história, ainda que somente pela tripla marca registrada do tamanho pequeno, do cabelo escovado para a frente sobre a testa e da mão enfiada no colete entreaberto. Talvez não tenha sentido fazer uma comparação dele, em termos de grandeza, com candidatos a esse título no século XX." Essa opinião sobre Napoleão I, sem dúvida se deve ao reflexo da disseminação do mito Napoleônico.

Fazendo um paralelo com as visões que se tem de Napoleão I, e até mesmo da herança que o bonapartismo deixou, Marx em seu livro, 18 de Brumário, - que trata do bonapartismo, golpe de estado, luta de classes, revolução proletária, doutrina do estado, ditadura do proletariado e restauração imperial, - refere-se a Napoleão III (2º Golpe do 18 de Brumário em 1852-1871 restaurou o absolutismo na França), que foi ironicamente imperador a semelhança de seu tio Napoleão I, como sendo medíocre e grotesco, pois para Marx, Napoleão I, na época do 1º Golpe do 18 de Brumário, aproveitou-se das circunstâncias das lutas de classes existentes na França para desempenhar um papel de herói por meio de golpes de estado, iniciando assim, a tragédia dos ciclos históricos, e seu sobrinho, Napoleão III, que como um farsante, copiou o seu mesmo golpe, mantendo os padrões de corrupções que se repetem ao longo da História.

Referências:

HOBSBAWN, Eric J. "A Revolução Francesa". In: A Era das Revoluções - 1789 - 1848. Editora: Paz e Terra. 2005.