Copersucar Fittipaldi / Atalla
A retrospectiva histórica sempre nos permite analisar fatos de uma forma mais clara e calma. Jorge Wolney Atalla, um dos responsáveis pelo salto que o Brasil deu em etanol, era considerado um visionário. Um ícone do setor sucraalcoleiro, Atalla também é lembrado por financiar, por meio da Copersucar, a campanha de Émerson Fittipaldi na Fórmula 1.
Em julho de 1974 a Copersucar, através da figura de seu presidente Jorge Wolney Atalla, acabaria ligando seu nome intimamente à equipe e influenciando parte de seu futuro.
Para a Copersucar, uma cooperativa de grandes usineiros (produtores de açúcar e álcool) anunciar em um carro de Fórmula 1 não significava vender nenhum produto com uma marca específica, o objetivo segundo Atalla era promover a capacidade tecnológica e o desenvolvimento industrial do Brasil.
Durante as transmissões da Copa do Mundo de 1974 na Alemanha, uma das propagandas da Copersucar era uma montanha de açúcar espetada com uma bandeira no topo e isso chamou a atenção da família Fittipaldi em procurar o jauense Jorge Wolney Atalla para financiar a primeira e única equipe brasileira de Fórmula 1.
A família Fittipaldi sempre foi pioneira no automobilismo. Wilson Fittipaldi pai criou as Mil Milhas. Wilsinho, o filho, correu com o primeiro carro de F-3 brasileiro, o Gávea, na Temporada Argentina de 1966, e fez o primeiro assalto à F-3 Européia, em Monthlery, 1966, com um Pygmee. Emerson foi o primeiro piloto brasileiro da década de 60 a atingir sucesso no nível de F-3. Além disso, no Brasil eles construíram karts, o belo Fittipaldi-Porsche, o bem sucedido Fórmula Ve Fitti-Ve, além de um curioso Fusca bi-motor. A inovação estava na veia dos Fittipaldi.
Quando Émerson Fittipaldi trocou a Lotus pela McLaren, no final da temporada de 1973, levou consigo o patrocínio da Phillip Morris, por meio da marca de cigarros Marlboro. O carro não era excepcional, mas o brasileiro conseguiu faturar o bicampeonato mundial.
Cansado dos atritos com o chefe da equipe, Teddy Mayer, Fittipaldi decidiu investir num projeto encabeçado por seu irmão Wilson: a criação de uma equipe com o nome da mais tradicional família do automobilismo brasileiro, que seria patrocinada pela Copersucar. Foram anos difíceis na carreira do bicampeão, que não conseguiu trazer para o time nacional o patrocínio da Marlboro.O sonho dos membros da equipe Fittipaldi, que sonhavam com um carro e tecnologia brasileiros, se desfazia aos poucos. Os projetistas do time foram mudando e, cada vez mais, entravam funcionários estrangeiros. A Fittipaldi acabou fixando sua sede na Inglaterra, assim como a fábrica também.
O fato de Emerson Fittipaldi ter saído da McLaren em 1975 para se integrar à equipe Fittipaldi de F-1 em 1976 parece quase categoricamente um dos maiores erros do automobilismo até hoje.
Emerson Fittipaldi estava no topo do mundo em 1975. Duas vezes campeão mundial. só com 29 anos de idade, já havia ganho 14 GPs, em pouco mais de 60 corridas. Há quatro temporadas consecutivas era campeão ou vice, performance só superada por Fangio nos anos 50. Era, indiscutivelmente, o principal piloto da F-1, embora não fosse o mais rápido.
Agora que os irmãos bancavam o projeto era necessário um patrocinador no ufanista Brasil grande. Mesmo na argentina Oreste Berta também tinha um projeto de F-1 e estava partindo para a construção, e o brasileiro pode até ficar atrás da Gâmbia, mas atrás da Argentina nem estourando as bielas.
Wilsinho notou o risinho incrédulo de três possíveis patrocinadores consultados, e decidiu só fazer novas investidas quando o carro estivesse em construção, em suas palavras "Eu estava tentando vender um desenho em um papel. E quem vai querer investir em um projeto que, aquela época parecia uma loucura absurda"
Durante 8 meses a Fittipaldi Empreendimentos financiou o seu próprio projeto, investindo uma pequena fortuna na época, cerca de 100.000 dólares, só para se ter uma idéia o salário de Emerson como campeão do mundo era de 250.000 dólares.
Um fato interessante foi que o Brasil disputaria a Copa do Mundo de 1974 na Alemanha, e como todo brasileiro a equipe fittipaldi também parava para assistir e sofrer com a seleção retranqueira de Zagallo, sem Pelé, Tostão, Clodoaldo, Gerson, somente com Rivelino e Jairzinho tentando desesperadamente salvar aquele imbróglio que o treinador sempre chamou de seleção e pior com a arrogância agora de campeão do mundo desprezando e humilhando antes da partida a revolucionária seleção da Holanda que esperou o time brasileiro entrar em campo para mostrar com quantas laranjas se fazem uma laranjada.
Durante as transmissões, uma das propagandas era uma montanha de açúcar espetada com uma bandeira no topo e isso chamou a atenção de Wilsinho:
- Olha pai, quem sabe esses caras não querem patrocinar a gente?
Queriam. E em julho de 1974 a Copersucar, através da polêmica figura de seu presidente Jorge Wolney Atalla, acabaria ligando seu nome intimamente à equipe e influenciando parte de seu futuro. Para a Copersucar, uma cooperativa de grandes produtores de açúcar (usineiros) anunciar em um carro de Fórmula 1 não significava vender nenhum produto com uma marca específica, o objetivo segundo Atalla era promover a capacidade tecnológica e o desenvolvimento industrial do Brasil.
Porém, para muitos analistas, entretanto a verdade seria outra: para Atalla interessava e era fundamental o apelo nacionalista que cerca o primeiro F-1 brasileiro, pois ele desejava o apelo à cooperativa que dirigia e que segundo as leis brasileiras vigentes a época não poderia continuar funcionando, pois uma cooperativa teria de ser formada por pessoas físicas e a Copersucar era formada por empresas jurídicas.
Uma Cooperativa se beneficia de muitas facilidades fiscais e isenção de impostos, fora os enormes e exorbitantes subsídios principalmente quando entrou em voga no Brasil o PROALCOOL, a partir do primeiro choque do petróleo de 1973, cuja intenção do governo era substituir a dependência brasileira do petróleo pelo álcool em combustíveis de automóveis automotores.
Apresentação do primeiro carro sul americano de F-1: a Fittipaldi, patrocinada pela Copersucar, foi no salão negro do Senado Federal com a presença do então presidente General Ernesto Geisel
O carro chamava atenção pelas linhas aerodinâmicas. Os radiadores ficaram atrás do carro, com as aletas de refrigeração abertas na carroceria, o tornando por demais e assim dizer lindo. O piloto ficava 15 centímetros abaixo da altura máxima do santantonio, para se ter idéia o mínimo exigido pela Fia era 2 centímetros, ou seja, o piloto vai quase deitado, um fator importante para Wilsinho que é muito alto. A informação é que 75% do carro era nacional, motivo de orgulho outrora que hoje nada mais representa num mundo globalizado.
Jorge Wolney Atalla
Natural de Jaú (SP), empresário do setor sucraalcoleiro, morre aos 80 anos em São Paulo no dia 31 de julho de 2009.
Presidida pelo empresário Jorge Wolney Atalla, o Grupo Atalla – com as usinas Central Paulista, em Jaú, e Central do Paraná, em Porecatu – foi referência nos anos 1970, no início do Proálcool no Brasil. Atalla foi presidente da Copersucar e um dos idealizadores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), considerado um marco pelo setor por desenvolver variedades de cana mais produtivas.
Os negócios de açúcar e álcool do Grupo Atalla é também controlador da Cimentos Planalto SA
Há cerca de quatro anos, a área agrícola da Central Paulista foi arrendada para o grupo Cosan, o maior processador de cana do mundo.
Fatos sobre a equipe Copersucar:
- Em oito temporadas, a equipe Fittipaldi acumulou 44 pontos, sendo 1 segundo lugar, 2 terceiros, 5 quartos , 4 quintos e 7 sextos lugares.
- Enquanto isso, a Williams, uma das principais equipes da atualidade, marcou apenas 21 pontos em seis temporadas (1973-78).
- A Fittipaldi terminou o Mundial de Construtores de 1978 à frente da McLaren, Williams, Renault e Arrows. E o Mundial de Construtores de 1980, à frente da Ferrari e Alfa Romeo e empatada com McLaren e Arrows.
- Em seu primeiro ano na equipe, em 1976, Emerson terminou o campeonato de estréia empatado com Carlos Reutemann (Brabham-Alfa Romeo). Em 1978, marcou o mesmo número de pontos que Gilles Villeneuve da Ferrari e ficou à frente de pilotos da Williams, Renault, McLaren e Tyrrell. No certame de 1980, terminou empatado com Alain Prost, da McLaren, e à frente de pilotos como Mario Andretti, da Lotus.
A equipe Fittipaldi teve os integrantes:
- Emerson Fittipaldi, duas vezes Campeão Mundial de Fórmula 1 e duas vezes vice-campeão.
- Keke Rosberg - trocou a Fittipaldi pela Williams, em 1982, e foi campeão do mundo.
- Jo Ramirez – primeiro chefe de equipe da Fittipaldi, sagrou-se campeão várias vezes na McLaren e foi considerado por Senna o melhor de todos.
- Ricardo Divila – projetista, já conquistou mais de 20 títulos no automobilismo mundial.
- Adrian Newey - projetista da equipe em 1979 e 1980, conquistou o título mundial em 1992, 1993, 1996 e 1997.
- Harvey Postlethwaite – projetista da Fittipaldi entre 1980 e 1981, integrou a equipe da Ferrari na conquista do mundial de construtores de 1982.