RESENHA SOBRE O DUCUMENTÁRIO: “A NEGAÇÃO DO BRASIL” DE JOEL ZITO ARAÚJO .
Alguém já se perguntou como o negro vem sendo representado pelas telenovelas brasileiras? Sobre e relação que há entre eles e os “brancos”? Ou sobre o lugar em que seus personagens ocupam?
Levantando estas e outras questões, o documentário “A Negação do Brasil” de Joel Zito Araújo se firma definitivamente como relevância para que se processe uma reflexão segura sobre os estereótipos nos quais os negros são inseridos. Não é de surpreender o fato de que a mídia tem o poder de construir e desconstruir identidades de uma forma nem sempre conseqüente. Isso é um fato. Cabe então perguntarmo-nos: estes estereótipos que recai sobre os negros são frutos de uma ideologia predominante ou são o resultado de uma mera necessidade, pois os negros desempenham melhor apenas esses papéis que lhes são atribuídos?
Se respondermos a este último questionamento pela afirmativa estaremos menosprezando a nossa própria inteligência e ao mesmo tempo afirmando uma visão preconceituosa construída por uma ignorância estabelecida e interessada em algo que vai além da importância do ser humano. Isso se daria por vários motivos.
Primeiro, o documentário, já referido, deixa claro que nas histórias das telenovelas brasileiras os papéis desempenhados pelos negros sempre estiveram à margem. Papéis como os de empregadas domésticas e outros de menor destaque são dados aos negros. Os protagonistas, de uma forma geral, são representados pelo padrão “sócio-racial” “euro-americanizado”.
A exemplo disso podemos citar uma novela exibida em 1969 chamada de “A Cabana do Pai Tomáz”. Um ator branco foi definitivamente pintado de preto para representar o protagonista de toda a trama. Isso seria cômico se não fosse trágico.
Segundo, os heróis brancos são frutos de um modelo artificial de superioridade intelectual que há no imaginário de muitas pessoas. A eles são dados os destaques precípuos de grandeza e de glória. Aos negros os de inferioridade.
Na década de 1970, por exemplo, surgiram novelas de época como “Escrava Isaura” e “Sinhá-Moça”. A partir delas houve certa mudança nesse sentido, pois um destaque – principalmente de “Sinhá-Moça” – foi dado a um grupo de escravos que lutavam junto a um grupo de abolicionistas pelo fim da escravidão. Entretanto, ainda se seguiu como enfoque da trama o modelo estereotipado do herói branco responsável pela libertação dos escravos do cativeiro. Nisso podemos ver que a novela faz uma afirmação clara de que foram os brancos os verdadeiros responsáveis pelo fim da escravidão, como que a verdadeira luta e o verdadeiro sofrimento foram experimentados e sofridos por eles.
De acordo com o documentário, entre 1980 e 1990 houve certa ascensão do negro, sobretudo, na novela “Corpo a Corpo”, pois alguns problemas experimentados por eles apareceram como uma espécie de denúncia. Nessa novela o preconceito racial surgiu como destaque mostrando que a sociedade brasileira não podia torcer o nariz para um problema que ainda estava vivo. No entanto, permaneceu a força ideológica da “branquitude” como marca do ideal de beleza e de grandeza do brasileiro e do Brasil.
Cabe então retornarmos à pergunta que foi feita antes: estes estereótipos que recai sobre os negros são frutos de uma ideologia dominante?
Para respondermos a isso temos que atentarmos antes para o fato de que Joel Zito aproxima, de uma forma pertinente, a televisão da sociedade brasileira. Nessa aproximação observa que a mídia deixa transparecer a forma e o conteúdo daquilo que está em foco. Se isso não representa, por sua vez, a realidade dos fatos deixa de transparecer a verdade.
Dessa forma entendemos também que todo discurso pode deixar marcas de uma ideologia. A mídia, de uma forma bastante atuante, trabalha com discursos. Portanto, também transmiti ideologias.
O fato é que a idéia que se tem do branco como os mais capazes representa a ideologia da “branquitude”. As telenovelas estão carregadas dessa ideologia. De acordo com o documentário, hoje no século XXI isso ainda ocorre. Os negros ainda são estereotipados como inferiores assumindo papéis menores que suas capacidades e importância na história do Brasil.