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mergulhei na banheira e senti a maciez dos sais minerais. fiquei por ali uns três quartos de hora. a cumplicidades de sinatra no quarto ao lado. depois saí da banheira e envolvi-me numa toalha branca. descalça, revi o meu guarda-roupa e o meu olhar recaiu sobre o preto. vesti-me. olhei-me ao espelho. revolvi o meu estojo de maquilhagem. passaram-me pelas mãos tonalidades de sombras, batons e seu lá que mais artifícios. decidi-me por um rímel e por um batom sem brilho. maquilhei-me como me maquilho todos os dias. penteei-me como me penteio todos os dias. contudo sentia-me insegura e tentava esboçar um sorriso para convencer o espelho. faltavam mais três quartos de hora. troquei sinatra por caetano, a luz do candeeiro pela da vela. derramei licor de laranja num copo de cristal. e acomodei-me no sofá a contar os segundos e a acender cigarros ansiosos. penso que entretanto adormeci pois o tempo acabou por passar. e então, vesti o sobretudo de todos os dias. e retoquei o perfume. não queria ser uma mulher fatal. talvez apenas sedutora. caminhei nos meus saltos altos em permanente equilíbrio. entrei no carro. pelo caminho cantei caetano, enquanto fumava mais uns cigarros ansiosos. estacionei. encontrei-te. dei-te um beijo. e fomos pela marginal de mãos dadas.