Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) não era considerado, em seu tempo, um escritor de importância para a Literatura Brasileira. A verdade é que sofreu muitos preconceitos: era mulato, pobre, socialista, alcoólatra, depressivo. Também foi alvo de muitas críticas da Academia Brasileira de Letras e de críticos literários: por usar a linguagem coloquial em suas obras, foi considerado um “escritor semi-analfabeto”.

Porém suas principais obras, Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911) e Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909) são as grandes obras precursoras do Modernismo: linguagem coloquial, estilo leve e fluente, crítica, análise social e humor.

Enquanto alguns escritores do período escreviam como se estivéssemos no melhor dos mundos, e viam na literatura "o sorriso da sociedade" (Afrânio Peixoto), Lima Barreto escancarou as janelas e deixou entrar o cheiro forte da realidade. Ele assumiu os problemas do seu tempo e examinou-os em seus romances. Foi, sobretudo, o "romancista da Primeira República", vista pelos olhos da classe média dos subúrbios do Rio. Enquanto os historiadores oficiais falavam nas lutas patrióticas da consolidação da República, ele via o outro lado da medalha: o povo, massa de canhão totalmente inconsciente do que se passava; a luta pelo poder entre os barões da agricultura e a burocracia militar ou civil; e, sobretudo, a vida dos subúrbios, com seus dramas e suas pequenas felicidades, seus grotescos e ridículos, seu lado terno e humano... A tradição desse romance realista remonta as "Memórias de Um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, e, depois de Lima Barreto, só teria continuadores expressivos já em pleno Modernismo, com o romance regionalista.

P/ Valéria Oliveira