vegetar
está outro dia cinzento. acordei com a chuva a bater na janela do quarto e a vontade foi de ficar na cama a escutá-la e a alimentar a minha nostalgia. quase que caí na tentação. circunstancialmente dá-me algum gozo ficar a vegetar. desligo o telemóvel e simplesmente não estou para ninguém a não ser para mim mesma. não o fiz hoje porque tinha planos para a tarde. mas ainda me deixei estar um pouco bocado a viajar por mim mesma.
agora é fim de tarde. vim descansar o espírito no il caffé di roma. já ninguém me espera e eu posso finalmente abrir o meu caderno de confissões e escrevinhar. que é como quem diz expulsar os meus demónios. continuo nostálgica e necessitada de estar comigo mesma. tu evades o meu pensamento neste preciso momento. há aquela saudade estranha que surge nos meus melhores segundos. não me causa ansiedade. simplesmente toma conta do meu pensamento. imagino-te numa cadeira da mesa onde estou sentada. deveríamos estar a conversar mas não há uma palavra que me ocorra dirigir-te. que palavra seria capaz de me explicar sem quebrar a magia que nos envolve? gostaria de descobrir-te. de entrar nesse teu mundo e de perceber a razão desses olhos tristes. mas uma vez mais as palavras são tão pouco expressivas.
estou sempre a sonhar. e quando acordo destas minhas divagações sou facilmente confrontada com a desilusão. gostaria imenso de passar as 24 horas do dia a sonhar e a criar. gostaria de ter aprendido a tocar violino para chorar através dele. gostaria de saber pintar o céu ou o mar ou qualquer objecto geométrico ou sem nexo. ao contrário, sou isto. pertenço à raça humana. mas nego-me a converter-me num deles.
e tu, por onde andas? o que te move? ah, dizia eu há pouco que estavas sentado à minha mesa. mentira. és apenas um fruto da minha imaginação.