Entre lágrimas, lama e suor - Iron Maiden, São Paulo, 15/03/2009.

Contrastante. Uma palavra que define muito bem como foi o show dos ingleses no último domingo (15). Enquanto por um lado os fãs tiveram uma apresentação excepcional da banda, por outro esses mesmo fãs foram tratados como porcos pela produção do evento.

A história é simples: os organizadores (Mondo Entretenimentos) não fizeram nada para ajudar. Simplismente disseram que o espetáculo seria no Autódromo de Interlagos, às 20h... e só. E o problema não se limitava à região fora do local, mas também dentro. Explicarei.

Tem gente que reclamou de não haver sinalizações, indicando rotas para chegar ao local (que era longe pra muita gente que mora em São Paulo, tendo em vista que a cidade é enorme). Eu fui de metrô/trem. Foi bem fácil, era apenas seguir o fluxo de cabeludos com a camisa que estampava o logo da banda. Mas, ao chegar no local, quem antes reclamou por uma coisa mínima agora reclamou de uma coisa enorme: a fila.

Ela tinha por volta de 2 Km, segundo li em sites. Foram 30 minutos de caminhada até o final dela e mais umas 6 horas para chegar à entrada do autódromo. Tenso. Andava, andava, e a fila não tinha mais fim. Até que depois de muitos passos e muitos rostos aguardando em seus lugares, finalmente chegamos ao nosso destino. Faltavam 4 horas para o começo.

Depois de 2 horas de espera e muito pouco movimento na fila, um certo medo começou a bater. Nesse momento, descobrimos que a produção já começou a cagar com tudo, pois 1 - abriu tardiamente o portão e 2 - aí que está, abriu apenas UM PORTÃO. Como raios 63 mil pessoas (segundo a produtora, 100 mil segundo Bruce Dickinson) iriam chegar a tempo com tão poucas entradas? Então demos um jeitinho brasileiro e furamos a fila. Na verdade, arrombamos, porque o que ganhamos de espaço foi incrível. Estávamos bem perto da entrada, porém, ainda demorou muito para de fato entrarmos.

O relógio andava, a fila não. 19h, 19h20, 19h30, 19h50. Enfim chegaram as 20h. Pessoas apreensivas que esperavam no lugar, outras que furavam mais ainda a fila. Depois de certo tempo, enfim adentramos ao recinto, com ar de: "MAIDEN! ò.ó". Porém, ah porém, a alegria durou pouco. Quanto ao mar de gente, até aí tudo bem, era de se esperar por isso. Oras, a banda deu uma segunda chance de quem não viu o show do ano passado ver de novo. Não tinha como não ir.

Então, descemos o caminho que levava à pista, e apo chegar lá, mais um incidente: não havia chão. Apenas lama. Por quase todo lado, salvos alguns pequenos trechos asfaltados. Foi uma situação de sorte e azar: a sorte foi que não choveu durante o show, mas choveu antes, o que deixou o gramado da pista totalmente pantanoso. O jeito foi atochar o pé na terra e mandar ver.

Mais uma vez esperamos. Chegamos depois da apresentação da Lauren Harris (também não perdemos lá muita coisa) e do anúncio do produtor da banda de que o show iria atrasar um pouco. Músicas tocam enquanto a angústia de berrar com o útero (até mesmo quem não tinha) crescia. E o cara que mexia nas luzes era um sacana, a cada fim de canção tocada no playback ele diminuía a iluminação do palco, dando a impressão de que estava para começar. Mas não. Depois de cerca de uma hora e dez minutos, o telão mostrou-se vivo.

Vivo apesar de umas partes dele não exibirem a imagem, danos da chuva segundo li. Mas não importa, poxa, o Maiden estava pra entrar no palco! O vídeo foi uma montagem de cenas da banda tocando e viajando no avião customizado para a turnê (o Ed Force One), ao som de Transylvania, música do primeiro álbum, tocada em playback.

As luzes se apagam, a expectativa é grande, a minha banda favorita estava pra entrar no palco, fazendo uma apresentação memorável. Então um barulho. A ignição de um avião. O discurso de Winston Churchill, seguido do vídeo no telão, como aparece no videoclipe original da música Aces High.

"We should never surrender!" - berravam todos, quando logo em seguida os primeiros acordes da canção já citada começava a tocar, ainda em gravação. Eles sempre fazem isso. A entrada triunfal se dá depois dessa breve introdução. Pirotecnia, urros, saltos, batidas de cabeça, lama, choro, e o Maiden. Aces High é muito forte quando é tocada ao vivo e quando você a ouve estando no meio de um purê de batatas humano.

Logo após o término do primeiro grande hit que desfilaria pela noite, o vocalista pede desculpas pelo atraso, e disse que isso se deu para que todos os fãs pudessem entrar. Creio que isso não foi possível, mas foi melhor do que começar às 20h. E assim seguiu a apresentação, totalmente mágica, uma música melhor que a outra. Não sei se todo o público estava pulando e cantando a plenos pulmões como eu estava. O problema da lama atrapalha bastante, eu dei sorte de pegar uma área acimentada.

Mais adiante, o vocalista comanda a plateia quando pede para que todos dessem dois passos para trás, pois o pessoal da grade estava sufocado. Então, o mar (de gente) se moveu, como pediu Bruce. Então ele comenta do fato de que, naquela noite, quebrou-se o recorde de público em shows da banda (sem contar festivais) e a banda inicia outra canção.

Lá pelas tantas, teve início a música homônima à banda: Iron Maiden. Até aí, tudo certo, era de se esperar a aparição do mascote da banda, o morto-vivo Eddie. O que aconteceu foi que ele se mostrou de uma forma inesperada: foi da mesma maneira que na turnê de '85. Saindo de trás de uma esfinge (com o rosto dele), surge uma múmia enorme em cima do baterista Nick Mc Brain, que soltou faíscas dos olhos, também igual à de tantos anos atrás. Realmente incrível.

Aliás, esse foi um show com muitos fogos de artifício, item que não estava presente nas turnês do ano passado. E que, apesar desse set estar meio danificado (mais uma vez culpa da Fucking Rain), as pirotecnias estavam demais.

Logo após essa canção, houve uma pausa de dois minutos. Então, a grave voz anuncia a introdução de The Number of the Beast. E, nos refrões dela, o Maiden coloca o inferno no palco: tufos e bolotas de fogo sobem pelo ar de maneira totalmente sincronizada com a música.

Mais adiante, já no fim do espetáculo (mas não da noite), a penúltima canção foi The Evil That Men Do, onde o mascote mais uma vez dava o ar de sua graça, agora no formato de cyborg, como na capa do disco Somewhere in Time.

Ao fim de Sanctuary que encerrou com chave de ouro a noite, os artistas despedem-se do público, saem, as luzes do palco de apagam e outras se acendem, como mostrando o local de saída. Nisso, Always Look on the Bright Side of Life, do grupo de comédia inglês Monty Python, começa a tocar nos falantes. Nada mais motivador que isso para quem estava na lama e exageradamente cansado, tanto depois de ter curtido o show como antes, de ter esperado na enorme fila. Mal sabia que o fim não estava tão próximo.

As luzes acesas serviram apenas até certo ponto como guia. Depois de encontrar pessoas quem se me separei, decidimos ir embora, senão ficaria complicado de arranjar meio de transporte público para voltar. Mas falhamos miseravelmente. Na verdade, quem fez isso, e digo mais uma vez, foi a produção. Claro que num evento com muitas pessoas, é normal haver tumulto na hora de sair. Contudo, haver apenas UMA saída (mais uma vez erraram no número de portões) e a saída de emergência não ser tão emergencial assim, isso tudo faz com que mais uma vez o público pagante fique prostituto da vida. Demorei mais de uma hora pra sair, pegando uma procissão sem fim, onde, em certos pontos, havia uma grade no chão para tampar sabe-se lá que diabos de buraco era aquele no chão. Alguém poderia muito bem cair ali facilmente. Sem contar que a iluminação era bem pouca nesse trecho, quase uma penumbra.

Mas apesar de tudo, seguimos em frente, andamos muito para sair daquele autódromo, todos cansados, enlameados, apertados pra ir ao banheiro, com fome, enfim, um monte de adjetivos que complicam o andar bastante. Por fim, o pai de um amigo nosso levou-me até onde eu estava, tentei lavar meus tênis e capotei. Fim de noite. Fim de Maiden.

O que aconteceu foi o que todo mundo diz: o show foi bom (alguns ainda falam que o som estava ruim, mas são poucos), porém, o dama da noite foi a organização péssima do evento. Evento grande, público recorde, que não pagou tão baratinho assim por estar lá. E que foi tradado desse jeito. É lamentável eu ter que dar uma conclusão dessas para o melhor diz da minha vida. Há quem diga que tudo bem, isso serviu como diversão. De fato, depois que passa, a gente ri, afinal, as boas lembranças do show cobrem um pouco as partes ruins da noite. Mas que não precisava ser assim, que poderia ser totalmente perfeito, isso sim, com certeza. Por fim, digo que todo mundo deveria ter a oportunidade de sentir na pele como é estar no show de sua banda favorita. Ir, pegar fila, cantar, berrar, gesticular, suar, chorar, sentir. Não tem palavras pra descrever.

Set List:

Aces High

Wrathchild

Two Minutes to Midnight

Children of The Damned

Phantom of The Opera

The Trooper

Wasted Years

Rime of The Ancient Mariner

Powerslave

Run to The Hills

Fear of The Dark

Hallowed Be Thy Name

Iron Maiden

Bis:

The Number of The Beast

The Evil That Men Do

Sanctuary

Line-Up:

Steve Harris - Baixo e Backing Vocal

Bruce Dickinson - Vocal

Dave Murray - Guitarra

Adrian Smith - Guitarra e Backing Vocal

Janick Gers - Guitarra

Nick McBrain - Bateria

GaP
Enviado por GaP em 17/03/2009
Reeditado em 10/04/2009
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