Projeto de ensino aprendizagem e projeto político-pedagógico: uma perspectiva de mudança segundo Vasconcellos.
Segundo Vasconcellos (2000), a análise que se faz dos manuais pedagógicos na direção, sobretudo, do planejamento, algumas etapas aparecem como características necessárias para o seu funcionamento, que são: planejar, executar e avaliar. Entretanto, isso não deve – de maneira alguma – interferir na visão de totalidade, isto é, de conjunto.
Frutos da racionalidade humana, estes projetos são não só formas de entendimento, mas também de apoio à ação. Seu valor como ponto de partida para a elaboração do planejamento, não deve ser separado de uma reflexão viva e atuante.
Posto isso, poder-se-á até dizer que é também imprescindível saber avaliar a diversidade do real como também dos objetivos que devem ser traçados sem necessariamente perdermo-nos em certas especificidades formais que podem se constituir a partir da prática.
Quando se trata das partes do projeto de ensino-aprendizagem ocorre, ostensivamente, algo análogo. Na relação objetivo conteúdo, por exemplo, parece haver um conseso entre os educadores que se comprometem em fazer uma educação crítica. Assim, entre eles é compartilhada a idéia de que os conteúdos devem, indubitavelmente, ter a sua definição a partir dos objetivos, descartando, dessa forma, um superficial desenvolvimento contrário.
Assim, de acordo com Vasconcellos (2000), a sistematização dos objetivos é tarefa fundamental. Com esta sistematização os conteúdos podem necessariamente ser resignificados no que se refere à sua reformulação ou substituição. É, pois, imprescindível que se compreenda que a determinação objetiva se torne tarefa relevante para a elaboração de todo o planejamento.
Há, portanto, um critério orientador para a elaboração do planejamento que não pode ser descartado. A flexibilidade é em absoluto esse critério não só porque permite uma maior interação com as práticas do professor, mas, sobretudo porque em não se tornando uma camisa de força obrigando o professor a cumprir um papel serve como mola propulsora para uma reflexão mais precisa da realidade. O professor interfere em todo esse processo.
Vivemos em uma sociedade fragmentada com reflexos dos indivíduos também fragmentados. Trabalho, consciência, desejo, relacionamento afetivo, religião, etc. Há fragmentação também do saber como estratégia para a manutenção das classes dominantes.
O educador tem papel relevante, pois interfere em todos esses aspectos. O espaço de trabalho coletivo talvez sirva como unificação transformadora. Isso significa que para que haja uma transformação educacional não se pode descartar a regeneração do homem como necessidade. A escola, na sociedade, assume o papel de mediadora permitindo o encontro e a reflexão numa prática ativa e libertadora.
Nesse ínterim, as reuniões pedagógicas semanais abrem espaço para as participações em que se estabelecem com maior prioridade uma reflexão crítica e coletiva sobre o trabalho em sala de aula como também sobre o papel da escola e sobre a necessidade do planejamento. Este último é importante, mas cabe ao professor compreender a necessidade que o momento exige.
Assim,é indubitável dizermos que o professor em sala de aula assume o desafio de realizar um trabalho seguindo programas de objetivação significativa e participativa. Isso quer dizer que aparentemente essa objetivação não parece ser um problema. O professor não está preso em uma teia de aranha ou em uma areia movediça. Entretanto, é preciso que haja uma reflexão em torno desse processo, pois ele não parece ser tão simples.
Quando se analisa atentamente não só o programa, mas também as condições ou o contexto em que deve ser aplicado é fácil percebermos que não há uma realidade benéfica nem para o professor, nem para os alunos. Nesse sentido, seguir fielmente um programa resultaria em um posicionamento repetitivo e reprodutor. A escola com toda a sua especificidade passaria facilmente a carecer de sentido.
Se o professor se limitar em reproduzir o estratificado e o unificador correrá o risco de perder a chance de colocar em prática um projeto educativo que ultrapasse os limites impostos. Se, ao contrário, tiver uma proposta de trabalho centrada responsavelmente no ENSINO-APRENDIZAGEM livre das amarras premeditadas dos programas a ser seguidos, poderá evidentemente criar uma proposta de assimilação crítica e participativa dos educandos.
É, portanto, necessário pensarmos em algumas características fundamentais para um bom aproveitamento não só do professor, mas também dos alunos. Poderemos dizer então que para que haja um trabalho educativo que vise o pleno desenvolvimento do ensino-aprendizagem não se pode descartar a necessidade de uma preocupação com o aumento da produtividade, de uma reflexão em torno do aspecto qualitativo e quantitativo, da racionalização do tempo e da capacitação para a pesquisa.
A complexidade que isso envolve – não podemos descartar – não é tão simples. Também o mundo não é tão simples assim. Os sujeitos que vivem nele também não se mostram simples. É, pois, perfeitamente necessário concebermos a educação como algo que deve ir ao encontro do mundo uma vez que trata das pessoas numa certa temporalidade.
Nesse contexto a escola assume o relevante papel de capacitadora. Isso quer dizer que as pessoas no processo de formação devem receber o necessário para dominá-lo de uma forma crítica e participativa pautado na compreensão do outro e de si próprio.
É evidente que tudo isso não deixa de ser um desafio pedagógico. Mas é algo fundamental para o pleno desenvolvimento do sujeito. Seu desenvolvimento não deve estar inserido apenas em seus conceitos do cotidiano. Deve, pois, ir além para a conquista de estruturas mentas superiores.
Vale dizer também que embora a escola se proponha em contribuir de uma forma decisiva para o necessário desenvolvimento do indivíduo, questões fundamentais ainda não atingiram este espaço. Na maioria dos casos a escola não contribui preponderantemente para uma formação humana satisfatória. Nelas há uma grande incidência em trabalhar conteúdos irrelevantes desprovidos de sentido no que se refere a uma formação condizente com o que o mundo exige.
Posto tudo isso é necessário, portanto, pensarmos em um projeto de ensino-aprendizagem que leve em consideração todo esse contexto. Sabemos assim que educação é projeto e que sua perfeita elaboração depende de um perfeito equilíbrio entre aquilo que deve ser feito e aquilo que fazemos.
Referência
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: projeto de ensino aprendizagem e projeto político-pedagógico. Elementos metodológicos para a elaboração e realização. São Paulo, 2000.