Resenha sobre “Estruturalismo e Semiótica” do livro Teoria Literária: uma introdução, de Terry Eagleton.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução. Waltenir Dutra. 2ª edição. São Paulo, 1994. P. 97-135.
Para Terry Eagleton (1994) a noção de estruturalismo, como a palavra diz, está ligada fundamentalmente à idéia de estrutura. Há por exemplo um sentido próprio de significação e funcionamento na obra de Northrop Frye que pode inevitavelmente corroborar esse raciocino uma vez que nela está presente uma determinada preocupação com as leis gerais pelas quais ostensivamente estas estruturas funcionam.
Isso quer dizer que para Frye o estudo sobre a literatura deve partir da objetividade em detrimento do subjetivo, isto é, de juízos de valores. Esse sistema de análise proposto por este pensador deve estar fechado em si mesmo, ou seja, separado da história, pois esta revela apenas uma mesmice. A literatura, portanto, é encarada aqui como uma estrutura verbal autônoma isolada de qualquer referência além de suas próprias conjecturas.
Entretanto, Eagleton deixa transparecer seu pensamento afirmando de uma forma bastante resoluta que literatura não é produto do isolamento uma vez que nasce do “sujeito coletivo da raça humana”. Antes é evidentemente parte dessa coletividade deveras abrindo mão de um preponderante determinismo. Segundo ele a obra de Frye é marcada por um visível medo do mundo social sendo ela, portanto, fruto de uma raiz utópica da literatura.
Este estruturalismo literário pode muito bem ser encarado como a aplicação do método de Saussure à literatura. Saussure também via a linguagem como sistema de signos. Em seus estudos era preponderante a aplicação sincrônica para a obtenção de resultados – segundo ele – confiáveis, pois se concentrava num determinado momento do tempo. Dessa forma podemos perceber que o aspecto diacrônico que apresenta certo desenvolvimento histórico era posto de lado. Este posicionamento não por acaso fez com que muitos teóricos da literatura trilhassem pelo mesmo caminho.
Dessa forma é perfeitamente visível que o estruturalismo se fundamenta não em um signo em particular, isto é, em um significado, mas na relação entre eles. Ainda seguindo esse raciocínio Jakobson via na linguagem o signo deslocado de seu objeto o que permite a ele (o signo) certa independência como “objeto de valor em si”.
A partir disso surgem alguns pontos que merecem uma maior reflexão para que assim cheguemos a uma conclusão mais segura na observação dos fatos. Perguntemos então se uma obra literária não se constitui de todo um contexto, isto é, de elementos significativos que são por sua vez internos e externos? Se a isso respondermos pela afirmativa devemos discordar do posicionamento dos formalistas quando dizem que o texto pode ser desligado de seu ambiente transformando-se em objeto autônomo. Por exemplo:
(...)" Lotman não considera que a poesia ou a literatura possam ser definidas pelas suas propriedades lingüísticas inerentes. O significado do texto não é apenas uma questão interna. Ele também é inerente à relação do texto com sistemas de significação mais amplos, com outros textos, códigos e normas na literatura e na sociedade como um todo". (Eagleton, 1994. P.110).
Até aqui já podemos observar que Eagleton utiliza o estruturalismo como algo que se aproxima de uma fusão com a semiótica. Cabe a esta última “o estudo sistemático dos signos, e era isso que os estruturalistas literários estavam realmente fazendo” (p.107). Assim ele coloca o estruturalismo como ciência literária e a semiótica como uma espécie de exigência relevante para esse estudo chegando muitas vezes a uma igualdade de conceitos.
Outro aspecto que pode ser observado em Eagleton (1994), é que o estruturalismo ao apresentar suas particularidades se apresenta evidentemente como anti-humanista e solapa diversos aspectos empíricos. A realidade sensorial tão valorizada pelo empirismo assume no pensamento estruturalista um pano de fundo que deve ser pensado apenas como estrutura. Aquilo que a percepção sensorial consegue abarcar diz somente das características facilmente enumeradas de fragmentação desse real. Assim, o verdadeiro que é objeto da experiência – na visão do empirismo – se torna partes observáveis de uma realidade não contínua entre si.
Há, entretanto, uma certa limitação no estruturalismo. Nele, busca-se um ponto de equilíbrio separado de um necessário contexto social que inevitavelmente rodeia toda a obra. Estudar literatura sem atentar para significativas mudanças ideológicas é esquecer um pouco do sentido de uma obra como um todo.
Nesse sentido, o estudo sobre “Estruturalismo e Semiótica” de Terry Eagleton traz uma série de questionamentos necessários, sobretudo, para quem se aventura na busca pelas descobertas da literatura. Demonstrando – numa profundidade de raciocínio – diversos posicionamentos teóricos o autor consegue estabelecer as bases de muitas convicções ainda presentes em nossa contemporaneidade.
Referência bibliográfica:
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução. Waltenir Dutra. 2ª edição. São Paulo, 1994. P. 97-135.