Resenha do texto “Geopolítica da fé”, de Ignacio Ramonet, do periódico francês Le Monde Diplomatique.

Por Diogo Xavier, graduando do curso de Letras da Fafire, 6º período A

O texto Geopolítica da fé, de Ignacio Ramonet, traça um perfil das religiões e crenças no mundo atual. Ramonet destaca que os maiores conflitos ocorridos no ano de 1999 foram, de certa forma, religiosos (Kosovo, Caxemira, Timor Leste e Tchetchênia). Isso sem contar os inúmeros conflitos “endêmicos” no fim do século XX, como no Oriente Médio (judeus/mulçumanos), Afeganistão (extremistas/mulçumanos moderados), entre outros.

Ramonet explica que por causa da globalização, que busca homogeneizar as culturas das sociedades, surgem vários movimentos em busca de um resgate da própria identidade, com base, principalmente, nas doutrinas religiosas. Também o fim da disputa entre liberalismo e comunismo criou uma crise de identidade política que favoreceu o ressurgimento das identidades religiosas e étnicas pelo mundo.

O autor do texto explica que as grandes religiões são capazes de atender às aspirações espirituais dos seres humanos, além de apresentarem respostas às suas angústias. Elas oferecem um conjunto de valores e verdades que ajudam às pessoas a interpretarem o mundo.

Em decorrência das mudanças demográficas sofridas nas últimas décadas, a disposição geográfica das religiões sofreu alterações significativas. O Catolicismo, por exemplo, tinha um maior número de fieis na Europa (França, Itália e Alemanha), já hoje os países com maior número de católicos são Brasil, México e Filipinas. O islamismo é a segunda maior religião do mundo e está cada vez menos árabe, visto que o maior número de seguidores está na Indonésia, no Paquistão e em Bangladesh.

Nas grandes religiões, há fieis que procuram um retorno de determinados valores de honestidade, justiça e solidariedade, tidos como valores religiosos originais. Em conseqüência disso surgem em todo o mundo diversos fundamentalismos, como o movimento da renovação carismática no catolicismo ou o extremismo hindu na Índia. Em alguns casos essa busca por valores religiosos vem carregada de ativismo político e tentativas de conquista do poder, às vezes até provocando conflitos sangrentos.

Nas últimas décadas, com a deterioração da economia e o aumento do número de excluídos, a busca por novas seitas e superstições aumentou. Isso causou, aponta Ramonet, o surgimento de novas religiões, em crescimento desenfreado no Ocidente, cujas características principais são a superstição e o esoterismo.

Ramonet esclarece que é como se entre o espaço conquistado pela racionalidade técnica e o perdido pelos dogmas religiosos tradicionais, tivesse sobrado uma “terra de ninguém”, que foi sendo ocupada pelas novas crenças e formas arcaicas de religiosidade.

Com isso, os mitos pagãos de destino e fortuna voltam a se fortalecer, como, por exemplo, a crença no poder dos astros. Ignacio Ramonet explica que as pessoas estão passando a desafiar os critérios da razão tecnológica, que nem sempre apresentam respostas aos seus anseios (desemprego, Aids, câncer).

Além disso, devido ao lema das sociedades neoliberais de que “vença o melhor”, muitos procuram mostrar que, apesar de sua condição social, podem ser “vencedores”, apostando nos jogos de azar. Dessa forma, o acaso passa a ser considerado sagrado, aumentando a busca por magos, videntes ou paranormais.

O autor conclui com um dado que também não é novidade aqui no Brasil: na França, sensitivos, astrólogos, videntes e magos têm um enorme público regular e metade dos franceses consultam seu horóscopo regularmente.

Dx
Enviado por Dx em 30/09/2008
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