Tell me now what you see - Moya B.


Um mergulho em Guinevere




Meu rei caminhando entre fileiras, milhões de olhares acompanhando embevecidos o porte altivo e evidente satisfação.  Estandartes erguidos com orgulho ao sabor do vento, gritos de guerra e saudações.

Esta imagem os guiará aos campos de batalha. Meu coração em cada passo que nos separa. Oculto medos e emoções em aparente frieza.  Sou apenas o que a necessidade exige.
Rainha e guerreira.  O mito da fortaleza que apóia o comandante, capaz de usar a espada e acompanhar o companheiro até o fim. 

Lendas contam que descendo de uma linhagem pura de feiticeiras. Que sou bem vinda em Avalon e também reino entre o povo da floresta. Minhas crenças bem guardadas, preciosas gemas queimam em meu peito e assim permanecerão.

Transpassada pela dor e maus pressentimentos  ajeito as dobras da veste. Brilham os enfeitam em meus cabelos, distraem os olhos e escondem o pesar. Saúdo a multidão.
Um vento forte soprou quando ele ordenou  a partida . O imenso mar humano agitou-se e o barulho do tropel repercutiu cada vez mais alto .O único som da terra, as batidas dos cascos dos cavalos e o ressoar dos tambores. Indescritível sensação da grandeza do exército de soldados, ávidos pela batalha e vitória.
Recordo a noite anterior, a lareira imensa ocupando a parede inteira, quase da altura do guerreiro. Como de costume, ele passou horas contemplando o fogo, armando estratégias, perdido em pensamentos...
O calor não aqueceu meu coração. Senti  o peso das decisões do meu amado. Permanecemos abraçados longo tempo, silenciosos.  Desde o início, soube que seria assim, intenso e sofrido. Um amor repartido, sem chance alguma de escolhas.
Gosto de ouvir as batidas do coração do meu amado. Soam tão forte. Repito nos meus pensamentos que ele será sempre vencedor, nada irá acontecer e não tenho com que me preocupar.
 Sufoco as lágrimas da saudade, nossas mãos apertadas, compartilhando, sem deixar que as incertezas contaminem o momento. Rogo  à Deusa proteção enquanto acaricio os cabelos do amado. 
Queria pedir que ele calasse, as certezas dele são minha agonia. O meu amor não é benevolente. É egoísta e o quer só para si, como todas as esposas do mundo. Ele partiu com a aurora e só tornamos a nos ver na hora da despedida.
Um pequeno borrão distorcido é tudo que consigo enxergar, fecho os olhos e a imagem de Arthur cavalgando entre as fileiras forma-se lentamente.
 É assim que devo guardar e cuidar para que conserve o brilho.  Será minha única inspiração nas horas mortas da saudade.


Na natureza encontro a tradução para o que somos. 
A  doce correnteza é protegida pelas bordas das margens escuras,
Segue o curso do rio, serpenteia por cidades  e atravessa países
Enfrenta quedas e desvios,  parte-se em mil pedaços, braços...
Toma cursos distintos em destinos diversos, rodamoinhos e valas
No final do caminho as águas juntam-se em um único volume
Deslizam  pelo leito de terra até ganhar a imensidão do oceano
Unidos  por toda a eternidade.








Obs. Este texto foi escrito após ouvir a música "Tell me now what you see" feita para o filme Rei Arthur.  
Não é uma resenha do filme ou personagens. 
É um momento inspirado em Guinevere ou uma resenha musical.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 05/09/2008
Reeditado em 07/09/2008
Código do texto: T1163858
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