Eleitores, candidatos, conversas

Em tempos eleitorais, situações e opiniões reiteram aos quatro ventos a mesma conversa: eleição é coisa séria e o clássico “Pense bem antes de escolher seu candidato”. Algo, sem dúvida, apelativo e conservador.

Num país onde só se travam discussões sobre política a cada quatro anos, há de concordar que tais comentários, por mais bem intencionados não ultrapassam a barreira da inocência e da inércia ululante. Ainda há muita confusão, emoção e pouca informação sobre os meandros e facetas da política moderna por parte do eleitor comum e isto não exclui os mais informados, pois como a própria publicidade afirma que no Brasil...- “Pegamos o eleitor pelo coração”¹.

Cada vez mais, enxergamos panoramas e programas políticos que se diferenciam pouco. A noção de “partidos”, ou seja, o muro que separava esquerda e direita hoje já não existe mais. Ele se desmontou, arrumou os tijolos de cal diluída, e novamente e faz parte agora da mesma estrutura. As alianças agora ditam as regras e dizem: juntos, todos ganham. Quanto às ditaduras, outra controvérsia. A política proporcionou o surgimento de ditaduras saídas do campo eminentemente político e os partidos ganham novas articulações e mecanismos globalizados de interação onde o conjunto político prevalece sobre supostas visões fragmentadas e antigas.

Não se pode esquecer que a política também acompanha o desenvolvimentismo das sociedades, suas comunicações e seu fazer antropológico. É muito comum vermos as ideologias se misturarem no meio do caminho e quando vemos já não são a mesma do “slogan” de campanha. Facilmente, o que encontramos são “singelas” diferenças nos discursos, propostas e programas políticos, e como se não bastasse um eleitorado frívolo, apático, à mercê dos propagandismos eleitoreiros, além dos discursos de benfeitoria que transformam candidatos em alpercatas de feira.

Certamente, esse eleitor necessita de tons digamos “avermelhados”, sem o trocadilho ideológico nas opiniões e palpites, e que ultrapasse as barreiras do “Pense bastante/ ou eleição é coisa séria”, pois é notável a tendência de transformar o tempo todo cidadão em consumidor. Provavelmente, não será em poucas semanas assistindo a “debates de auditório” possível saber quem são os candidatos. Talvez por isso as campanhas de “coração mole” funcionem tão bem.

Há mecanismos de comunicação política e eles estão disponíveis desde que sejam dinamizados e defendidos como instrumento de pleito e participação.

O gestor de uma cidade, uma vez eleito, é um funcionário público que cumpre com obrigações. O representante político deve ser estimulado e desafiado como qualquer profissional para estabelecer os compromissos com a população. Caso contrário, a esfera política e as suas delícias ficarão sempre restritas aos palácios arborizados de governo e aos trâmites das salas frias do executivo.

Portanto, abaixo os “discursos-vaselina” de vésperas eleitorais e comecemos a aprender a conversar e se organizar perante os candidatos. Demonstrar articulação política também é um papel do eleitor e isso deve ser mostrado ao candidato disposto a trabalhar para nossa cidade ou nosso estado e país.

1-A frase "Pegamos o eleitor pelo coração" remete às características da consciência dependende, à qual Paulo Freire menciona, ou seja, uma quse-aderência à realidade objetiva ou sua quase imersão na realidade. Ele quer dizer que a consciência dominada não se distancia da realidade para objetivá-la, a fim de conhecê-la de maneira crítica.

A esse tipo de consciência chamamos de "semi-intransitiva". Sua semi-intransitividade é uma espécie de inutilização, imposta pelas condições objetivas. Por isso, os únicos fatos que a consciência dominada capta são os que se encontram na órbita da sua própria experiência. (Freire, Conscientização-Teoria e Prática da Libertação, pág 67, Editora Moraes, 1980)

MJ Minos
Enviado por MJ Minos em 27/08/2008
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T1148956
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