Onde estão os telespectadores? A TV pública no Brasil
Não é novidade que as TVs públicas no Brasil sobrevivem com orçamentos escassos e quase nenhum incentivo por parte das esferas públicas, muito menos por parte de uma população ainda alheia e desinformada acerca dos benefícios que a tv pública de qualidade traz para a população.
A supremacia da televisão comercial, cada vez mais comprometida com anseios e posicionamentos políticos é algo que em nosso país atrasa e impossibilita o fomento e a distribuição de informação isenta, qualificada e com conteúdos críticos eficazes.
É óbvio que para um país que passa a conhecer o meio “TV” através da programação comercial a que conhecemos hoje, compromissada com anunciantes e não com materiais de utilidade pública e resgate cultural, assim como foi no início dos anos 60 com a chegada das primeiras emissoras no país, torna-se complicador assimilar e entender a importância de uma TV pública, comprometida com interesses do cidadão muitas vezes esquecidos.
O telespectador brasileiro aprendeu e internalizou a linguagem que a TV comercial ao longo destes 40 e poucos anos desenvolveu e que hoje o torna consumidor massivo dos seus produtos lucrativos, da parcialidade disfarçada e refém das metas de audiências da sua programação. Enfim, o telespectador nacional tem com referências e parâmetros de qualidade a TV comercial, assim como os seus conteúdos jornalísticos, de entretenimentos, educação, etc.
Para a grande maioria, principalmente a população pobre sem acesso a qualquer fonte de esclarecimento complementar, há uma completa aceitação ou talvez nenhum interesse na busca de fontes adicionais de informação. Mas, isso não se dá apenas no caso acima, e certamente ocorre em menores ou maiores níveis de aceitação para os telespectadores em geral.
Isso se deve ao poder de referência e a abertura que as emissoras de TV comercial obtiveram ao longo desses anos, e hoje tornam quase imperceptível o grande fosso, a distância, o enorme buraco entre a qualidade das programações que a tv atual oferece e o que realmente é essencial para o cidadão , para o pai ou mãe e para as crianças desse país.
Por isso, é tão importante discutir a existência de uma tv pública, comprometida com nossos valores, com resgate e desenvolvimento das nossas raízes culturais e ofereça um canal em que o produto esteja além de anúncios lucrativos e seja de fato um canal de comunicação em que o eleitor discuta sobre as questões que envolvem os panoramas nos quais o seu país está envolvido.
Acordar e compreender a necessidade de conteúdos não-comerciais, desenhos infantis que reavivem e engrandeçam as nossas lendas e nossa cultura, de debates políticos, econômicos, científicos que envolvam a população e a torne atuante e participativa é algo capaz de transfigurar e transmutar a realidade da TV de massa no país.
Assim, será mais fácil entender que é possível fazer comunicação com qualidade suficiente para dar uma nova cara a TV no nosso país.
Certamente, tornar o advento dessas iniciativas reais está nas mãos dos telespectadores, exigindo e cobrando dos seus governos o incentivo às políticas que viabilizem a criação de um instrumento de comunicação novo e aberto para uma sociedade que em pleno período de convergência digital nem sequer discute a validação de uma programação de conteúdo nacional e cultural consistente.
Portanto, se continuarmos nessa letargia constante e não lutemos pela criação desses instrumentos de poder capazes de defender e nos educar para a busca e conquista de direitos e interesses, estará cada vez mais distante encontrar novas soluções para mudar os modelos que tanto aprisionam o país.