Séries que não consegui parar de assistir

Não sou muito fã de assistir séries. Nos últimos anos é muito difícil resolver entrar de cabeça em alguma. Por causa dos meus afazeres cotidianos e profissionais, tenho forte resistência teimosa em iniciar alguma nova temporada, mesmo quando recebo alguma indicação de conhecidos empolgados em compartilhar alguma novidade.

De maneira geral, prefiro assistir longas, ouvir podcasts sobre cultura, economia e política e ler um bom livro de literatura. Embora seja incomum - como tudo tem exceção na vida - tem aquelas poucas séries (principalmente documentários) que ao longo de anos não pude deixar de assistir e que acabei sendo fisgado do início ao fim.

Algumas dessas, pode-se dizer que estão completamente voltadas para aquilo que me interessa. Para essas poucas, fiz uma lista das séries favoritas (que não está em ordem de preferência) . Todavia, assim como agradecimentos, sempre se corre o enorme risco de deixar alguma de fora do panteão. Mais para frente, posso ampliar essa lista por aqui ou simplesmente criar uma nova.

• A história do cinema: Uma Odisséia

The Story of Film: An Odyssey é um documentário de 2011 sobre a história cinematográfica de autoria do crítico de cinema, produtor e realizador Irlandês Mark Cousins. Esta série monumental consta de 15 episódios de uma hora cada, num total de 900 minutos. Ela aborda desde as origens do cinema até o cinema digital nos dias atuais. Foi difundida a primeira vez já em 2011 no Channel 4 do Reino Unido e já passou por diferentes festivais da sétima arte, museus (MoMA), além de cinematecas. Enquanto cinéfilo, agradeço imensamente pela oportunidade de ver tantos filmes fascinantes referenciados de maneira instigante nesse documentário.

• Breaking Bad

Essa premiada série está longe de ser apenas um mero entretenimento. Tendo como protagonista Walter White, um professor de química, mal remunerado, que a após descobrir um câncer no pulmão, resolve produzir metanfetamina junto com um dos seus alunos, Jesse Pinkman, como meio de poder pagar o tratamento para sua doença terminal.

A partir de um enredo impressionante, multidimensional e repleto de cenas épicas de ação, a história se desenrola através da de personagens intrigantes, multidimensionais, contraditórios. Como se não bastasse, possui fotografia, montagem e trilha sonora de tirar o fôlego. Com tudo isso e mais inúmeros outros méritos nos deparamos ao longo de cinco viciantes temporadas com assuntos relacionados a personalidade e trajetória riquíssima de um anti-herói, a falência da guerra as drogas, a angústia existencial ao lidar com a consciência da morte, entre tantos outras questões altamente intrigantes e que perpassam o campo da antropologia, filosofia, psicologia e sociologia ao lidar com questões espinhosas que permeiam a complexidade da condição humana.

• Chef´s Table

Essa série, começou a ser transmitida em 2105 e possui várias temporadas. Cada episódio se concentra em um único chef e nas experiências de vida que a/o levou a seguir os rumos (muitas vezes) espinhosos da gastronomia. O tempo todo, ela possui fotografias belíssimas e histórias marcantes, apesar de as vezes apelar para uma narrativa neoliberal (meritocrática e empreendedora) que envolvem muitas dessas personalidades e suas narrativas de superação pessoal. Apesar dessa abordagem, deve-se reconhecer que os episódios possuem contornos interessantes e que valem a pena conferir.

Outras séries da franquia que não ficam atrás; Street Food que mostra o melhor da comida de rua, primeiro dos países asiáticos e da América Latina e Chef´s Table Pizza, Massas e Churrasco. Recomendo todas para quem valoriza tanto esse caleidoscópio socioalimentar que envolve o universo da comida, suas técnicas e seus principais envolvidos.

• Cozinhar

Primeiro eu li o livro The Cooking escrito pelo consagrado jornalista e ativista alimentar, Michael Pollan. Já a minissérie, Cooking (2016) presente na Netflix, serve como um ótimo complemento da obra, apresentada pelo mesmo autor e que serve como uma espécie de convite para aqueles que são "verdadeiros gourmands" e/ou para quem quer conhecer mais a respeito do fascinante mundo culinário.

O contato com o pensamento de Pollan deixou profundas marcas e de algum modo contribui até mesmo para minhas futuras pesquisas. Com base na leitura de suas obras (e depois com a série passei a ter um interesse muito maior em cozinhar e paralelamente ao entender a importância comida em todas suas etapas que perpassam o sistema agroalimentar - do campo à mesa. Compreender o ato de comer como um ato político e agrícola, se torna ainda mais urgente nesses tempos sombrios de predatismo socioambiental e do pesadelo climático que estamos inseridos e que pode levar o fim do nosso planeta.

• Irmãos Karamazov

O brutal assassinato do proprietário de terras, Fiódor Karamázov, muda drasticamente a vida de seus filhos; Mítia, o sensualista, cuja amarga rivalidade com o seu pai o coloca imediatamente sob suspeita do parricídio; Ivan, o intelectual rebelde, que sofre de torturas mentais que levam-no a uma crise nervosa; Aliócha, o espiritual, aquele que tenta curar as profundas feridas da família; e a figura sombria de seu meio-irmão bastardo Smerdiákov.

Assim como o inquérito que se seguiu e o julgamento que busca revelar a identidade do assassino, a obra-prima de Dostoiévski evoca um mundo sombrio e a beira do abismo, onde os limites entre a inocência e a corrupção, bem e mal, e a fé de todos na humanidade é colocada constantemente a prova.

Bastante fiel a obra desse escritor russa, essa adaptação é dividida em doze capítulos. Juntamente com a minissérie O Idiota (2003) minissérie Crime e Castigo (2010) , Os Irmãos Karamázov (2009) compõe a tríade de versões relativamente recentes lançadas na Rússia das obras de Dostoiévski. Possivelmente adicionaria ambos nessa lista, mas eu ainda preciso (ter acesso) e assistir cada uma delas. Recomendo a leitura dos livros, antes de imergir em cada uma dessas séries que adaptam de maneira magistral esses clássicos da literatura russa.

• Rotas da escravidão

Essa minisérie documental (2018) extremamente relevante que possui quatro episódios, aborda um mundo cujos territórios e fronteiras foram construídos pelo terrível tráfico de escravizados. Um trágico mundo onde a violência, a morte, a subjugação, a tortura e o lucro incessante impunham os caminhos de um sistema.

Diferente do que muito se imagina, a história da escravidão africana não começou nos campos de algodão ou algo do tipo. É uma tragédia sem proporções muito mais antiga - segundo o documentário - que vem acontecendo em mais de um milênio. Segundo os pesquisadores que são apresentados na série, a partir do século VII, e por mais de 1.200 anos, a África foi o epicentro de um enorme trânsito de seres humanos atravessando diferentes partes do globo. Mais de 20 milhões de africanas (os) foram deportadas (os), vendidas(os), torturadas (os) e escravizadas (os). Esse fato social, levanta uma questão fundamental: como e por que a África virou o coração das rotas da escravidão?

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 08/12/2024
Reeditado em 08/12/2024
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