Três séries de televisão: The Lone Gunmen; The Last Ship; e, The Justified.
Não é meu propósito, nesta resenha, que será curta, assim espero, perder-me em comentários sem fim, horas e horas a tratar das séries-de-televisão enfeixadas no título. É meu propósito despretensioso: escrever breves comentários, o que pretendo fazer sem outras razões além da de expôr algumas observações, minhas, e destacar o que entendo interessante, ou, mesmo que não o seja, que tenha me chamado, por alguma razão, que ignoro, a atenção.
- Deixe de blablabla, e vá direto ao assunto, amigo - pede-me, gentil, e amigavelmente, ligeiramente impaciente, o leitor.
Das três séries cujos títulos estão no título desta resenha, principio, como não poderia deixar de ser, pela primeira, The Lone Gunmen - que em português castiço fica Os Pistoleiros Solitários -, uma série-de-televisão derivada da popularmente famosa série-de-televisão de ficção-científica protagonizada pelos agentes Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gilligan Anderson), Arquivo X - X-Files, em inglês castiço de Mark Twain. São os heróis três nerdes extravagantes, investigadores que, mal e mal, no exercício de suas atividades investigativas, a se envolverem com estranhos, obscuros casos, mantêm um jornal, no qual publicam as suas descobertas, jornal que encontra poucos leitores. O trio de nerdes, John Fitzgerald Byers (Bruce Harwood), Melvin Frohike (Tom Braidwood) e Richard Langly (Dean Haglund) depara-se, no primeiro episódio, de março de 2.001, com uma conspiração, que se encerra com uma cena emblemática: um avião sequestrado voa em direção ao Word Trade Center. E consuma-se a tragédia. Não. Não. No filme, evitam-la, no último segundo. Este é o episódio, dos poucos da série, o mais emblemático, e por razões óbvias, que o leitor, estou certo, não ignora. Nos episódios subsequentes, poucos, repito, envolvem-se, em um deles, os três nerdes com o governo, que financia um projeto secreto, de aprimoramento da inteligência de animais, no caso, de macacos; em outro, têm eles de se haverem com um personagem que supostamente à Terra veio de um universo paralelo; e em outro, com o criador de um veículo movido a combustível barato, acessível a toda pessoa; e confrontam, em outro episódio, com uma nazista; e em outros episódios, engolfam-los tramas diabólicas, escabrosas, horripilantes.
É tal série-de-televisão simples, bem-humorada, leve, direi, espirituosa, recheada de referências a filmes famosos. Tem o seu charme, o seu encanto.
Agora, a segunda série-de-televisão: The Last Ship (O Último Navio). Tem cinco temporadas. Não é lá grande coisa. É o último navio - que na verdade não é o último, mas, sendo o navio o herói da série-de-televisão, então dão-lo como o último, querendo-se, assim o qualificando, dar a entender que é aquele navio que resistiu, bravamente, à destruição do mundo - o dos heróis, que empreendem façanhas dignas dos argonautas, a singrarem os sete mares, tais quais Sinbad, o USS Nathan James, cujo capitão, e posteriormente almirante, é Tom Chandler (Eric Dane), e em cuja tripulação está a cientista Rachel Scott (Rhona Mitra). Passam-se as aventuras do USS Nathan James, a superar contratempos incontornáveis, a ferir-se em batalhas sem conta, numa Terra apocalíptica, após um surto de vírus, que dizimou noventa por cento dos humanos. Desapareceu o mundo que hoje conhecemos. Fragmentam-se nações engolfadas por revoltas. Os povos, dispersos, desconfiados uns dos outros, conservam, vivas, as desafeições anteriores à tragédia que se abateu sobre os humanos, tragédia que a doutora Rachel Scott, a escudá-la a tripulação do último navio, impediu de se estender indefinidamente.
São interessantes alguns pontos: Rússia e Estados Unidos não se bicam; China e Estados Unidos não se entendem; Japão e China vivem em pé-de-guerra.
Escrevi pouco, no parágrafo anterior, e escrevi mal. Corrijo-me: os personagens que simbolizam a China, os Estados Unidos, a Rússia e o Japão fitam-e com o canto dos olhos - as desconfianças são mútuas, o resíduo, direi, dos sentimentos mutuamente hostis que, durante o transcurso dos séculos, alimentavam uns pelos outros.
A nobreza do capitão, e almirante, Tom Chandler, superior, impoluta, imaculada, é o símbolo dos Estados Unidos, da superioridade moral deste país; é ele o espírito destemido dos desbravadores, imarcescível, pronto para o que der e vier, pronto, sempre, para arrostar os desafios, que o destino lhe põs diante. Até de Hércules ele se fez!
Ah! Esquecia-me: Não se entendem os Estados Unidos e a América Latina.
Lutam pela posse exclusiva da cura os americanos e os russos, estes com o propósito de, tendo-a sob seu domínio, usá-la para chantagear as outras nações.
Nos Estados Unidos, agora fragmentado,ocupa a cadeira presidencial, na Casa Branca, um boneco-de-engonço de alguns personagens inescrupulosos.
Pessoas, poucas, dotadas de imunidade natural, resistentes ao vírus que ceifou a vida de nove de cada dez humanos, lutam para destruir o remédio que promete curar a humanidade, pois se têm na conta de escolhidas, predestinadas à sobrevivência, e à propagação da espécie, enquanto as outras pessoas, as que não foram agraciadas com a imunidade, estão, assim entendem, fadadas a perecerem.
Uma elite política, à destruição iminente da civilização, decide que as pessoas infectadas, mesmo à perspectiva da chegada iminente da cura, devem morrer, mas não em vão: seus corpos devem servir de combustível às usinas de produção de energia que mantêm em funcionamento a cidade da elite.
Homens inescrupulosos, megalômanos, lutam pela posse exclusiva de uma espécie melhorada de sementes resistentes a um vírus que está a dizimar as plantações em todo o planeta; de posse dela, iriam chantagear todos os países.
Programadores de computador, sob as ordens de políticos ambiciosos e inescrupulosos, infectam os computadores dos Estados Unidos, ou do que restou da outrora nação mais poderosa do universo, produzindo-lhe o caos, abrindo caminho para os invasores, que põem de joelhos a terra do Tio Sam.
A tripulação do USS Nathan James, evita, é claro, todas as tragédias. Todas, vírgula, excetuada a primeira, da qual as outras são epifenômenos.
Mesmo à perspectiva do fim-do-mundo, que se aproxima rápida, e inexoravelmente, dominam muitos indivíduos sentimentos criminosos, sonhos mesquinhos. Revelam-se muitos homens incapazes de um ato de gentileza, de respeito, de amor, de nobreza, de grandeza, a razão obnubilada pelos mais reprováveis desejos. Os heróis têm ares míticos, fabulosos; são invencíveis; assumem dimensões grandiosas.
É tal série-de-televisão interessante. Tem os seus atrativos, conquanto seja esquemática a sua trama, e unidimensionais os seus personagens. É tudo preto no branco, maniqueista, os personagens definidos, sem nuances, sem filigranas psicológicas.
E chegamos à terceira, e última, das três séries-de-televisão que, aqui enfeixadas, decidi comentar, e à qual dedicarei menos palavras do que as que dediquei a The Lone Gunmen e a The Last Ship: Justified. É tal série-de-televisão baseada num livro de Elmore Leonard, escritor de livros policiais. Desconheço o livro, e do autor li, há três centúrias, seis lustros e quatro anos, um livro, e não me lembro de qual, livro que, recordo-me, vagamente, não me deixou boas lembranças. Revive a série-de-televisão, com outros personagens, a eterna desavença entre os Hatfield e os McCoy. Os primeiros episódios, apesar de uma grosseira inconsistência logo de início, são palatáveis. Mas perde-se a trama, que se converte numa novela folhetinesca recheada de reviravoltas enervantes a envolverem sempre os mesmos personagens. Não sei dizer porque cargas-d'água assisti a Justified até o seu derradeiro episódio. Prendeu-me a atenção, e fez-me a, ansioso, assistir, em um dia, três, ou quatro, episódios, a antever-lhe o fim, assim que entrou em cena Boon (Jonathan Tucker), um pistoleiro rápido no gatilho, meio amalucado, uma espécie de Billy the Kid, o único personagem que está em pé de igualdade, no que diz respeito ao manejo do revólver, com o delegado Raylan Givens (Timothy Olyphant), o herói, e que podia, num duelo contra ele, sobrepujá-lo. Vêem-se frente à frente, a poucos metros de distância um do outro, ambos com a destra no revólver. E, de repente, ouvem-se dois tiros. E os dois personagens caem no asfalto.