O Inspetor - Inspetor em Londres (The Inspector - London Derriere) - desenho animado.
O Inspetor, inspetor da polícia francesa, herdeiro dos talentos dos nobres inspetores franceses e belgas, de porte napoleônico, e dotado de um nariz à Cyrano de Bergerac, modelo exemplar da beleza francesa, a perseguir, de carro, em Paris, de barco, em Veneza, de esqui, em Genova, de bigas, em Roma, um ladrão de jóias que não se lhe deixa capturar com a facilidade com que ele contava, chega, no encalço dele, a Londres, onde a perseguição se dá à pé, e onde ganha, na cabeça, uma bastonada - que o põe, no chão, desacordado -, presente de um fleumático policial londrino, tipicamente britânico, impassível diante das adversidades, que o carrega até à sede da respeitável Scotland Yard, onde o venerável capitão, tal qual o policial londrino, exemplarmente fleumático, que não dispensa o chá da hora do chá, um gentleman, de fisionomia inalterável, pétrea, exorta-o a dispensar, enquanto em Londres, o revólver, cujo uso as leis inglesas proibem. O inspetor francês, a estranhar tão inexplicável norma, no encalço do ladrão de jóias - este, de posse de um revólver e dele a fazer uso, sem que lhe incomodem as autoridades policiais londrinas, quando bem entende - recebe, sempre que, inadvertidamente, dispara um tiro, na cabeça, guardachuvadas, as quais lhas dá o onipresente capitão da Scotland Yard, que surge, indefectivelmente elegante, dos lugares mais inusitados. E para não mais vir a ser golpeado, no cocoruto, pelo capitão, abandona o revólver, e desmunido enfrenta o meliante perigoso e armado. Enfim, encerra-se o caso, não sei se a seu contento; e o capitão da Scotland Yard restitui-lhe o revólver que muita falta lhe fez durante a recheada de adversidades caçada, pelas ruas de Londres, ao ladrão de jóias.
Creio, querido leitor, que tu, ao assistires este episódio do apolíneo inspetor parisiense, apolíneo segundo a estética francesa, além de se divertir com a disparatada aventura, aprenderás a arte da perseguição policial e a da fleumática finura dos sempre elegantes gentlemen ingleses, que muitos erroneamente acreditam serem peças de museu.