CANÇÃO DO ACERTO DE CONTAS

Breve, julguei-me poeta,

mas nada entendia o ofício:

nenhum repertório ou métrica

— ritmo? Nem rastro no início.

Sem forma, mero calouro,

louvando todo abandono:

prece sem tom nem decoro,

folha dispersa no outono.

Quis muito a tantos louvar,

altivo, sem bem saber;

quis noutra data cantar,

mas foi um grito a se perder.

E foram tantos ruídos

— roucos, doídos, falazes —,

ao fim, fendiam ouvidos,

ferindo períodos e frases.

Mas eis que o tempo sussurra,

sopro veloz do caminho:

escuta o vento que dança,

sente o calor do teu ninho.

Dada atenção ao real,

gravada toda a canção:

tema nenhum é banal

no pulsar do coração.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 26/03/2025
Reeditado em 26/03/2025
Código do texto: T8294886
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