Bretes tecnológicos

Num chip que rege o destino

Grande Irmão é quem nos guia

Orwell riu-se clandestino

Do que hoje é mais que utopia

Qual o gozo é mais sereno

Que pastar marchando ao feno

 

O povo em sono profundo

Não vê o gado que é seu nome

Ruminando ao som do mundo

Sacia-se e de si some

Ah Brasil de servidão

Que se alegra em servil pão

 

Na tela os gurus da vida

Cajados de algoritmos

Enlaçam quem se intimida

Com discursos tão legítimos

Do medo de ser sozinho

Deixo a alma ao desalinho

 

As redes nos deixam distantes

Vulneráveis e sem presença

Onde estão as reuniões dançantes

E os grandes amigos da adolescência?

 

Os grupos, currais da manada

Monitoram silentes alguns incautos

Em direct seguem na fofocaiada

E nos posts são gélidos internautas

 

Autoanálise é a chave

Véus caem os falsos santos

Mas de todo espelho agrave

O nosso isso é dos prantos

Pois no filtro escuro e mudo

São correntes que nos guiam tudo

 

Ser falante ou ruminante

Que do baú não sai

Trago assombros do mirante

Mas no fundo sei que cai

Quem não enfrenta seu horror

Que lhe arranca qualquer cor

 

Decimar da Silveira Biagini

10 de novembro de 2024