"A BOCA QUE ME BEIJOU..." Mote alheio.
Glosa de Valdir Loureiro
Em 10 estrofes (décimas).
1ª Estrofe
Nosso amor era bonito
Com todo abraço apertado,
Mas depois foi relaxado
Para eu esquecer seu dito.
Seu som rouco foi gasguito
Qual trombeta de clarim.
Soprou aerossol em mim,
Da raiva que espumou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
APÓS COMENTÁRIO DE ANTONIO JADEL E FRANCISCA DE OLIVEIRA
2ª Estrofe
Quando eu vinha, ela chegava;
Quando eu chegava, ela vinha.
Era a princesa-rainha
Que, em nosso trono, reinava.
Do seu amor eu gostava
Por cima do camarim.
Depois ficou tão ruim
Que eu vim, mas ela faltou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
3ª Estrofe
Isso pode acontecer
Com um coração querido
Se o outro tiver nascido
Para ofender com prazer.
Finge amor para valer
Do começo até o fim.
Mas, entre os falsos assim,
De todos o meu ganhou:
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
4ª Estrofe
Eu não quero outra desgraça
Dessa que um amor me deu;
Sem pedir carinho seu,
Ele me entregou de graça!
Eu quis um vinho na taça,
Ela deu vinho e pudim.
Mais tarde, manchou o carmim
Com o ódio que me soprou:
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
5ª Estrofe
Não sou capaz de cuspir
No prato onde fui comer;
Devo muito agradecer
A mesa e a quem me servir.
Nojo não iria sentir
Iracema de Martim;
A Índia não fez assim
Com o Guerreiro que ela amou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
6ª Estrofe
Disse-me "louvado seja!",
Mas também me rogou praga.
Foi mão de pluma que afaga,
Mão de ferro que apedreja;
Dama de olho que flameja,
Foi minha estrela em festim,
Depois virou estopim
Quando o seu olhar brilhou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
7ª Estrofe
Seus lábios da cor de rosa
— Da flor que sobeja amor —
Prenderam-me com o olor
Que o nó da beleza dosa.
Soltei a voz melodiosa
Ao som do seu bandolim,
Mas a flor virou capim
Que nenhum cheiro soltou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
8ª Estrofe
Humilde e simbolicamente,
Era deusa de mãos postas;
Agora me vira as costas
Para não me olhar de frente.
Com ódio e orgulhosamente,
Mudou da metade ao fim,
Fez-me trapo e trampolim
Para a fama que alcançou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
9ª Estrofe
Beijou-me de coração,
Com amor, paixão e vontade.
Mas deixou-me na saudade
E expulsou-me com o seu cão;
Deu dois chutes no portão —
Um por ela e outro por mim;
Mandou-me ir embora, eu vim;
E o portão não se fechou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
10ª Estrofe- Apêndice ao Mote:
Por fim rastejei aos pés
Daquela dama e donzela;
Cantei verso de Florbela
Espanca — de um a dez...
Para acabar com o revés,
Dei de presente uma tela
Colorida em aquarela,
Bonita até no viés.
Dei-lhe conforto em coxim
Tão macio como brim.
Mas, com o outro, ela usou.
"A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim."
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Estrofe 11- da autoria de um poeta leitor e meu amigo:
"Como o réptil disfarçado
(Que não tem perna nem mão)
Esse ser trabalha então
Com o coração camuflado
Pra dar o bote calado
Em rapaz puro, um jasmim
Sua maldade não tem fim,
Até a mim vitimou:
"'A boca que me beijou
Cuspiu com nojo de mim.'"