Robô de Mauá
I – A criação
Com silício, cobre e aço
Reciclado de estilhaço
Robô veio a ser criado
Que é movido a vapor,
Que nunca será amado,
Presente ao imperador.
Sábio Barão de Mauá
Quando o robô foi criar
Fez questão de garantir
Que ele fosse desprovido
De chorar ou de sorrir
Ou de ser algo fingido.
Irineu Evangelista,
Um criador calculista,
Com o intuito de inovar
E com respeito profundo
Resolve presentear
Grande Dom Pedro segundo.
A então criação robótica
Que possui uma forma exótica
Foi dado ao imperador
Para que guarde seu lar,
Para ser seu protetor,
Para que possa ajudar.
II – Apresentação
O Mauá vai para expor
Robô ao imperador.
Ele colocou de frente
Para que Dom Pedro veja
Enquanto o robô não sente
Não se mostra nem fraqueja.
— O que ele faz, Mauá? –
Perguntou o rei a olhar.
— Não questiona nem contesta,
Lava, pinta, limpa, poda,
Pra muita coisa ele presta,
Não pensa e não incomoda –
— O robô aceitarei –
Disse esperançoso o rei.
De perto ele analisou,
Verificou o motor,
Botou a mão, revirou,
Testou se sentia dor.
— O robô começará.
Amanhã trabalhará –
Disse o rei muito animado.
Ele logo se afastou,
Ele chamou um criado,
E levá-lo ele mandou.
III – Pena
Inicia mais um dia,
Carvão o robô comia.
Ele estava no jardim
Com uma tesoura podando
Todos arbustos, sem fim
Ia podando e andando.
Repentinamente vê
A borboleta a mercê.
E dando um tapa fatal
Ele mata a borboleta
E segue tudo normal
Vai regando a violeta.
— Você, robô, é cruel
Rasgastes como papel –
Disse irado esse criado
Dando um soco na carcaça
— Não fique mais no meu lado –
E exagerado ele passa.
O robô não entendia
Porque não deveria
Matar essa borboleta
“O que isso tem de errado?
Só fiz ir para valeta”
Pensou o robô parado.
IV – Amor
Inicia mais um dia,
Carvão o robô comia.
Pelo pai foi visitado:
O grandíssimo barão,
Que chegou apaixonado
Pela sua criação.
— Bom dia meu grande filho –
Disse com olhos em brilho.
— O que tem passado aqui?
O que tem feito ou comido?
Bom o dia que escolhi? –
Disse o barão divertido.
O robô não reagiu
Não falou e nem sorriu,
Só levantou o seu braço
Acenou que positivo
E nem para dar abraço
Foi de alguma forma ativo.
— Nossa, por que foi tão rude?
Queria só uma atitude –
Disse o barão abalado
— Fui eu quem te deu a vida
E nem pra ser bem tratado –
No robô deu uma batida.
O robô não entendia:
“Por que meu pai cobraria
Alguma demonstração
De amor ou sentimento
Se na minha criação
Não foi dado tal talento?”
V – Vício
Inicia mais um dia
Carvão o robô comia.
Quando o robô passeava
Via gente com cachaça
E ele se perguntava
Se faz mal para carcaça.
E com curiosidade
Ele vai para cidade
Experimentar um pouco
Desse líquido ardente
Que deixava homem louco,
Que deixava o corpo quente.
No gole pela barriga
Descobriu sua nova amiga:
A cachaça ele amou
E bebeu uma garrafa,
Bebeu até que acabou,
Até que a carcaça abafa.
VI – Arrependimento
Inicia mais um dia,
Álcool o robô bebia.
Quando no palácio estava
Pelo rei foi alertado:
— Te viram quando chapava
Até ficar acabado –
O robô levanta o dedo
Sem expressar nenhum medo,
Confirmou o que eles viram
Sem nenhuma reação
E não importa o que digam
O robô não quer perdão.
— Se arrependa do que fez,
Se beber mais uma vez
Te mando para o barão,
Ele te castigará
E nunca mais te verão –
Disse o rei a praguejar.
O robô deu meia volta
E o rei o robô revolta
Ele sai pelo portão
“Devia me arrepender
Por ter feito tal ação?”
Pensou ao portão bater.
VII – Raiva
Inicia mais um dia,
Álcool o robô bebia.
Ele estava no jardim,
Arbustos ele podava,
Até que Seu Joaquim
Diz enquanto trabalhava:
— Ei, seu robô miserável
Você é um imprestável!
Não serve para podar,
Não serve pra proteger,
Não serve para cuidar.
Só serve para beber –
— Nossa robô, vai deixar? –
Disse alguém a provocar
“Por que me incomodaria?”
Ele pensou trabalhando
“Por que eu me importaria
Com o que ele tá falando?”
VIII – Cobrança
Inicia mais um dia,
Álcool o robô bebia.
No palácio o rei questiona:
— Robô, por que não responde?
Seu coração não funciona?
Seus sentimentos esconde? –
— Não ama seu próprio pai,
Apanha e não diz um ai,
Bebe álcool todo dia,
Não se arrepende por isso –
Disse o rei sem alegria
Quando não tinha serviço.
IX – Surto
O robô já não sabia
O que fazer deveria.
Não foi dado sentimento,
E nem personalidade.
“Eu já não sei mais se aguento
Toda essa grande maldade”
“Nunca demonstrei amor,
Nunca senti qualquer dor,
Nunca mesmo senti pena,
Nunca eu me arrependi,
Minha consciência plena
Nunca odiei, só bebi”
X – Fim
O robô não aguentou
Ele somente pifou.
Foi devolvido ao barão
Que com aquela carcaça
Só arremessou no chão,
E destruiu com a maça.