Um conto sem vigário
Eu vim de Piripri,
Onde babaçu abunda,
Notre-Dame tem corcunda,
Beethoven tocava em Si.
E tanto lá como aqui,
Poeta é persona grata.
E embora não seja a nata
Da alta sociedade,
Pode rimar à vontade,
Colarinho com gravata.
Também fazer serenata
Em noite de lua cheia,
Calçar sapato sem meia,
Vestir camisa regata.
Minha cidade é pacata,
Não tem ladrão nem bandido,
Niguém namora escondido,
Nem a mulher do vizinho.
Basta uma taça de vinho,
E o caso tá resolvido.
Até hoje inda duvido
Da estória do vigário,
Que no sexagenário,
De um corno assumido,
Entrou sem fazer ruído,
Logo depois do sermão,
Com uma vela na mão,
A outra mão na batina,
E um pote de vaselina
Pra concluir a missão.
Quem me contou foi Adão,
O sacristão da igreja,
Que até hoje corteja
A dama da lotação.
Se é mentira ou não.
Se é indício sem prova.
O padre levou pra cova
De lembrança, na surdina
O pote de vaselina
E a batina seminova.