Autocrítica
Eu estou para o cordel
Como um cego pro seu cão,
A corda para o pião,
A abelha para o mel.
Já que não sou menestrel,
Sou simplesmente um poeta,
Que só rima bicicleta
Com seta, meta... e mais:
Singulares com plurais
E seleta com pateta.
Sou a versão incompleta
Do poeta hodierno,
Que rima céu com inferno
E pai idoso com neta.
Que usa a arma secreta,
Pra fingir que tem cultura
E evitar a censura
Daquele leitor pentelho,
Que nunca dobra joelho,
E nunca curva a cintura:
Um morto sem sepultura...
Uma cova sem coveiro...
Uma bolsa sem dinheiro...
Um banquete sem fartura...
Uma prova de bravura
Que esconde a covardia,
Uma mão que sentencia
Bem antes do julgamento,
Uma rajada de vento
Que precede a ventania.
Poeta sem maestria,
Sem passagem no Parnaso.
Poeta soldado raso,
De verve vil e sombria.
Poeta de rima fria,
Como o riso da hiena.
Poeta que se apequena
Frente a um verso bem feito,
Mas que traz dentro do peito
a tinta da sua pena.
Eu estou para o cordel
Como um cego pro seu cão,
A corda para o pião,
A abelha para o mel.
Já que não sou menestrel,
Sou simplesmente um poeta,
Que só rima bicicleta
Com seta, meta... e mais:
Singulares com plurais
E seleta com pateta.
Sou a versão incompleta
Do poeta hodierno,
Que rima céu com inferno
E pai idoso com neta.
Que usa a arma secreta,
Pra fingir que tem cultura
E evitar a censura
Daquele leitor pentelho,
Que nunca dobra joelho,
E nunca curva a cintura:
Um morto sem sepultura...
Uma cova sem coveiro...
Uma bolsa sem dinheiro...
Um banquete sem fartura...
Uma prova de bravura
Que esconde a covardia,
Uma mão que sentencia
Bem antes do julgamento,
Uma rajada de vento
Que precede a ventania.
Poeta sem maestria,
Sem passagem no Parnaso.
Poeta soldado raso,
De verve vil e sombria.
Poeta de rima fria,
Como o riso da hiena.
Poeta que se apequena
Frente a um verso bem feito,
Mas que traz dentro do peito
a tinta da sua pena.