Cantigas de roda
Terezinha de Jesus
atirou o pau no gato,
e pelo seu desacato,
um castigo ela fez jus:
dois enormes bois Zebus
e um boi da cara preta,
lhe puzeram na gaveta
feito o escravo de Jó,
ao chegar no Itororó
com asas de borboleta.
Quando um Saci de muleta
e a galinha do vizinho
pintaram o passarinho
mais bonito do planeta:
asas de cor violeta,
ligeiro que nem corisco,
que só mesmo pai Francisco
tocando o seu violão,
cantou o cai cai balão,
na ponta dum obelisco.
Deixo aqui este rabisco
pra dizer em verso e prosa,
que nem o cravo e rosa
quizeram correr o risco
de sair, sob o chuvisco,
pra descobrir por que é,
que o sapo não lava o pé,
mesmo o sapo-cururu,
e que o mandacaru
não espinha quem tem fé.
Na vazante da maré
nasceu, sem ser semeado,
o velho alecrim dourado
da loja do mestre André,
que vendia picolé
de baunilha e chocolate,
pirulito bate-bate
e o que na Bahia tem.
Vendia balão também,
colher de pau e chá mate.
Pergunto então para o vate:
Samba lelê tá doente,
ou tá enganado a gente,
preparando o xeque-mate?
Quem sabe o engraxate
que envernisou a barata
e o sapato da mulata,
que me ensinou a nadar,
ou os peixinhos do mar
sob a lua cor de prata?
Só me resta a ladainha,
ao som de dó-ré-mi-fá,
e jogar o caxangá,
da ciranda cirandinha,
até que a fada madrinha,
possa mandar ladrilhar
o céu, a terra e o mar,
com pedrinhas de brilhante,
pra que meu grilo falante
volte de novo a falar.