Mito mutante
Do amor de Afrodite
com um mito genuíno,
há quem diga e acredite
ser concebido um menino,
que uma vez homem feito,
soprava dentro do peito
os gazes do intestino.
Por capricho do destino,
com Hélios, o deus do sol,
num dia de sol a pino,
versejou, em si bemol,
um poema à deusa Atena,
e fez, à boca pequena,
o canto do rouxinol.
Pôs Apolo num anzol,
desafiou o cupido,
desenrolou caracol,
fez Eros quedar, vencido.
Fez Dionísio e Baco,
um, do outro, puxa-saco,
como escarrado e cuspido.
Ares, que foi parido
nas guerrilhas do sertão,
por ser um deus destemido
fez desaforo a Plutão,
que por ser deus do inferno
pôs Héstia no fogo eterno,
sob os cuidados do cão.
Perséfone, desde então
rainha do submundo,
pelo sim e pelo não,
caiu num sono profundo.
E ao despetar do sono,
notou ter perdido o trono
prum deusinho vagabundo:
Um mutante oriundo
da lenda tupiniquim.
Se não rima com Raimundo,
talvez rime com capim.
Quem sabe com Anhangá
mijo fresco de gambá
ou outra rima ruim.
Um mito qualquer, chinfrim,
que polui os nossos dias!
Que fique longe de mim,
e das minhas companhias:
qualquer um vil semideus,
que professa, junto aos seus,
estranhas filosofias.
Que Zeus e as suas crias,
quer seja grega ou romana,
renegue os falsos messias,
na versão americana:
atleta, paraquedista...
da tortura, um avalista,
dentro da farda ou paisana.