A trajetória espiritual de um jovem seminarista Lazarista.

Hoje com os cabelos brancos, guiando um Ford preto, como foi na minha infância, voltando pelo mesmo caminho.

Ao entardecer vendo o brilho do anoitecer, recordando de tudo, do menino que andou de carro de boi, carroça e de jipe, montado em um cavalo caminhava pela floresta.

O jovem rapaz que sentou em bancos de universidades famosas, sempre estudando filosofia, sonhando compreender o pensamento de Marx, Darwin, Nietzsche e Freud.

Posteriormente, ainda jovem estudando a hermenêutica do grande mestre Foucault, assim passou o tempo.

O menino que estudou no seminário menor na cidade de Campina Verde, ano propedêutico, Filosofia, Psicologia e História, Puc de Belo Horizonte, dois anos de noviciado.

Nada teve muito sentido, nem mesmo com o Bacharel em Teologia, em São Paulo, perdendo, 0,7 décimos para nota final do diploma, que seria dez.

Posteriormente, compensado com nota dez no exame univera, a mais elevada avaliação em um currículo eclesiástico.

Os padres foram também meus pais.

O carro deslizava, a tarde estava linda, tudo que sonhava compreender a intensidade da noite, o brilho das estrelas, queria poder entender o despertar da madrugada.

Ainda restava uma ponta do trilho, a estrada já não era tão longa, sonhava entender o fim.

Todos eles tinham passado, o tempo era outro, o futuro tão somente aquele instante, refletia a história apenas quatro, a crueldade da direita, o domínio total dos abobados.

Já não podia mais ter direito ao sonho, sentia a brisa do entardecer em meus olhos, conhecia o teor da pastagem, entendia como funciona a engorda.

Nada mais triste, o não entendimento do inimigo, a razão instrumentalizada, o silêncio as margens, um amontado de gado, contemplando o curral.

Isoladamente o Ford preto bufava, como se fosse um touro na infância, então recordava de Nietzsche, o sentido da existência uma ideologia humana, o homem é sua própria morte.

Recordei de tudo, do menino que rezava o terço na Fazenda Serra da Moeda, ganhava sapato novo quando o avô vendia os bois no Anglo de Barretos, até comprava um jipe novo, admirava a tecnologia.

Recordava do meu noviciado no Santuário do Caraça, da Virgem Maria e de São Vicente, de como Cristo gostava dos pobres.

Entretanto, já não era mais inocente, sabia que o batismo na água, pelo fato de Israel ficar no deserto.

Uma forma de tomar banho, motivo pelo qual o rio Jordão é sagrado, então o que seria a ressurreição a reconstituição de ossos, o homem é apenas a sua cognição.

Coitado do povo pobre, sempre iludido, usado, a tarde já estava no fim, meus cabelos brancos, um novo dia cheio de hidrogênio, entretanto, o trilho já não poderia ser muito estendido.

Refleti, como está sendo boa a minha tragetória, triste apenas por não ter ajudado fazer o povo entender, qual é a finalidade do capim.

A pastagem a terrível ilusão daqueles que tiveram que ser gado.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 12/09/2020
Reeditado em 12/09/2020
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