Carta para Pedro Malasartes
Ora escrevo esta missiva,
senhor Pedro Malasartes,
como uma vã tentativa
de reviver suas artes.
Já formei a comitiva
liderada por Descartes.
Vou dividir em três partes
as dimenções do projeto:
um miolo e dois encartes,
pra cada parte, um trajeto.
Cabe ao senhor dois apartes,
e um comentário discrreto.
E rogo ao Grande Arquiteto,
que, no céu, é soberano,
que fique por lá bem quieto,
pois pra Ele eu tenho um plano:
chancelar como correto,
caso eu cometa um engano:
Era uma vez um cigano,
cabra de grande visão,
que, no império romano,
fez um judeu e um cristão,
à parte, um ledo engano,
um ao outro dar a mão.
O mais sábio, Salomão,
já no avançar da idade;
o outro, Ciço Romão,
no viço da mocidade,
encontraram Lampião
num cabaré da cidade.
Assim se fez amizade
entre padre e rabino,
o lucro e a caridade,
o acaso e o destino,
a mentira e a verdade,
a espingarda e o sino.
E o capitão Virgulino
levou os dois pro sertão.
Fez padre virar rabino,
e rabino sacristão.
Sob a benção do divino
e até mesmo o alcorão.
E assim dividiu-se o pão,
o tabaco, a cachaça...
a rapadura, o feijão...
o pigarro, a fumaça...
o fiado, a pretação...
e o enterro de graça
E assim nasceu a pirraça
entre empregado e patrão,
o caçador e a caça,
policial e ladrão...
entre a caneca e a taça
a fé e a religião.
E também a união,
entre a uva e vinho,
entre o homem e o cão,
entre a rosa e o espinho,
e entre Eva e Adão,
a solidão e o sozinho.
E assim abriu-se o caminho
pra dar vasão à cultura,
Com Malasartes, o padrinho,
a narrar sua aventura,
mesmo mentindo um pouquinho ,
ao exaltar a bravura.
Da missiva, a essa altura,
Malasartes, me despeço,
pois a noite está escura
e tenho medo, confesso.
Fica minha assinatura
e o endereço no verso.
E, finalmente, lhe peço,
em reverência à cultura,
que me deseje sucesso
nesta ferrenha procura,
pra que eu possa ter acesso
aos dons da literatura.
Ora escrevo esta missiva,
senhor Pedro Malasartes,
como uma vã tentativa
de reviver suas artes.
Já formei a comitiva
liderada por Descartes.
Vou dividir em três partes
as dimenções do projeto:
um miolo e dois encartes,
pra cada parte, um trajeto.
Cabe ao senhor dois apartes,
e um comentário discrreto.
E rogo ao Grande Arquiteto,
que, no céu, é soberano,
que fique por lá bem quieto,
pois pra Ele eu tenho um plano:
chancelar como correto,
caso eu cometa um engano:
Era uma vez um cigano,
cabra de grande visão,
que, no império romano,
fez um judeu e um cristão,
à parte, um ledo engano,
um ao outro dar a mão.
O mais sábio, Salomão,
já no avançar da idade;
o outro, Ciço Romão,
no viço da mocidade,
encontraram Lampião
num cabaré da cidade.
Assim se fez amizade
entre padre e rabino,
o lucro e a caridade,
o acaso e o destino,
a mentira e a verdade,
a espingarda e o sino.
E o capitão Virgulino
levou os dois pro sertão.
Fez padre virar rabino,
e rabino sacristão.
Sob a benção do divino
e até mesmo o alcorão.
E assim dividiu-se o pão,
o tabaco, a cachaça...
a rapadura, o feijão...
o pigarro, a fumaça...
o fiado, a pretação...
e o enterro de graça
E assim nasceu a pirraça
entre empregado e patrão,
o caçador e a caça,
policial e ladrão...
entre a caneca e a taça
a fé e a religião.
E também a união,
entre a uva e vinho,
entre o homem e o cão,
entre a rosa e o espinho,
e entre Eva e Adão,
a solidão e o sozinho.
E assim abriu-se o caminho
pra dar vasão à cultura,
Com Malasartes, o padrinho,
a narrar sua aventura,
mesmo mentindo um pouquinho ,
ao exaltar a bravura.
Da missiva, a essa altura,
Malasartes, me despeço,
pois a noite está escura
e tenho medo, confesso.
Fica minha assinatura
e o endereço no verso.
E, finalmente, lhe peço,
em reverência à cultura,
que me deseje sucesso
nesta ferrenha procura,
pra que eu possa ter acesso
aos dons da literatura.