O Dalí daqui
Um final de primavera:
o sol com ar de verão!
Flores caídas no chão,
nuvem lembrando quimera!
Um coração que acelera,
enquanto a boca boceja.
Um beija-flor que deseja,
beijar um botão de flor,
para sentir o sabor
do beija-flor, quando beija.
Um bem-te-vi que viceja
uma canção vespertina.
Um coração de menina,
que algum menino corteja.
Uma silvestre cereja,
que amadurece no pé.
O som de um oboé,
que voa ao sabor do vento,
como quem faz do momento
uma mensagem de fé.
Um cheiro bom de café,
que no bule assobia
uma aguda melodia,
que sai pela a chaminé.
O sono do cafuné,
tão profundo e repousante,
que faz um colo de amante,
embriagada de amor,
gerar o frio e o calor
do mundo em um só instante.
Neste cenário até Dante,
ao chegar no paraíso,
com seu versejar preciso
e seu inferno intrigante,
se curva, ao ficar diante
das flores, do colibri...
do arisco bem-te-vi...
do sol com ar de verão...
tudo isso em comunhão
com o céu de Piripiri.
Pra chegar até aqui,
nos meados do cordel,
danei lápis no papel,
como Salvador Dalí,
que aportou no Piauí
numa canoa furada,
e por pouco, quase nada,
escapou dum tubarão
trazido do Marahão,
como num conto de fada:
Uma varinha podada,
do talo do buriti,
conhecida, em guarani,
como conversa fiada,
e, pela turma fardada,
cipó de pau-de-arara.
Quanto mais fina, mais rara,
quanto mais rara, mais dura
pra vomitar, na tortura,
os beijos da namorada.
E pôs os pés na estrada,
Dalí, o grande pintor.
Bem antes do sol se pôr
com sua barba dourada.
Deu uma longa pitada
num velho haxixe espanhol,
pintou a clave de sol,
numa versão surreal,
e pescou no pantanal,
sem precisar de anzol.
Ajudou um caracol
a carregar sua casa,
voou sem nunca ter asa,
afinou, em si bemol,
o canto dum rouxinol
que cantava em sustenido
inda tocou, de ouvido,
a oitava sinfonia,
num arranjo que existia,
antes de Bach nascido.
E sem nenhum alarido,
por ser um surrealista,
pintou, a perder de vista,
com seu pincel destemido,
e o haxixe consumido
durante a sua passagem.
Sem esquecer da visagem,
que avistou na floresta,
e os tambores da festa
de uma tribo selvagem.
E por pura sacanagem,
pintou seu autoretrato,
batendo uma no mato,
pra não perder a viagem.
Remodelou a imagem
"dO Grande masturbador"
pois como todo pintor,
quando põe a mão na brocha,
quanto mais a mão arrocha,
mais vai mudando de cor.
Um final de primavera:
o sol com ar de verão!
Flores caídas no chão,
nuvem lembrando quimera!
Um coração que acelera,
enquanto a boca boceja.
Um beija-flor que deseja,
beijar um botão de flor,
para sentir o sabor
do beija-flor, quando beija.
Um bem-te-vi que viceja
uma canção vespertina.
Um coração de menina,
que algum menino corteja.
Uma silvestre cereja,
que amadurece no pé.
O som de um oboé,
que voa ao sabor do vento,
como quem faz do momento
uma mensagem de fé.
Um cheiro bom de café,
que no bule assobia
uma aguda melodia,
que sai pela a chaminé.
O sono do cafuné,
tão profundo e repousante,
que faz um colo de amante,
embriagada de amor,
gerar o frio e o calor
do mundo em um só instante.
Neste cenário até Dante,
ao chegar no paraíso,
com seu versejar preciso
e seu inferno intrigante,
se curva, ao ficar diante
das flores, do colibri...
do arisco bem-te-vi...
do sol com ar de verão...
tudo isso em comunhão
com o céu de Piripiri.
Pra chegar até aqui,
nos meados do cordel,
danei lápis no papel,
como Salvador Dalí,
que aportou no Piauí
numa canoa furada,
e por pouco, quase nada,
escapou dum tubarão
trazido do Marahão,
como num conto de fada:
Uma varinha podada,
do talo do buriti,
conhecida, em guarani,
como conversa fiada,
e, pela turma fardada,
cipó de pau-de-arara.
Quanto mais fina, mais rara,
quanto mais rara, mais dura
pra vomitar, na tortura,
os beijos da namorada.
E pôs os pés na estrada,
Dalí, o grande pintor.
Bem antes do sol se pôr
com sua barba dourada.
Deu uma longa pitada
num velho haxixe espanhol,
pintou a clave de sol,
numa versão surreal,
e pescou no pantanal,
sem precisar de anzol.
Ajudou um caracol
a carregar sua casa,
voou sem nunca ter asa,
afinou, em si bemol,
o canto dum rouxinol
que cantava em sustenido
inda tocou, de ouvido,
a oitava sinfonia,
num arranjo que existia,
antes de Bach nascido.
E sem nenhum alarido,
por ser um surrealista,
pintou, a perder de vista,
com seu pincel destemido,
e o haxixe consumido
durante a sua passagem.
Sem esquecer da visagem,
que avistou na floresta,
e os tambores da festa
de uma tribo selvagem.
E por pura sacanagem,
pintou seu autoretrato,
batendo uma no mato,
pra não perder a viagem.
Remodelou a imagem
"dO Grande masturbador"
pois como todo pintor,
quando põe a mão na brocha,
quanto mais a mão arrocha,
mais vai mudando de cor.