OBSERVADORES
OBSERVADORES
Pessoas que sonham pouco
Não raro não fazem nada,
Pois vivem na encruzilhada:
Direita? Esquerda tampouco!
Sem elas prossegue a estrada...
Veem os outros s'estrepando
E dando co'os burros n'água!
Se não têm paixão, nem mágoa.
Só observam onde e quando,
Rio, o desejo deságua...
Distante, acontece a História:
Reis, sistemas, sucessões,
Guerras e revoluções:
Homens em busca de glória
A conduzir as Nações!
Todos passam, entretanto,
Enquanto eles olham de lá
Satisfeitos de quanto há
N'este mundo em desencanto
Onde a História não está.
Pois permanecem parados,
Certos de estarem mais certos.
Entendem-se como expertos
E os demais como enganados,
Face a seus olhos despertos.
Mas estar certo não basta
Quando há um mundo a mudar.
Mais perde por esperar
Quem diante de etnia ou casta
Aceita outrem prejulgar.
Ou tolera os privilégios
Dos que vivendo de rendas
Ao longo de suas contendas
Arvoram-se homens egrégios
Como se mitos ou lendas.
Pretendem ser imparciais
Quando são só impresentes...
Passam por indiferentes,
Analisando os demais,
Mas por coloridas lentes!
Sim, pois há conveniências
Em se ignorar dos tiranos
As sombras de seus enganos
À margem das consciências
Sobre os direitos humanos.
Ou ainda s'emudecer
Diante das contradições
Que vêm gerando exclusões
Para mais prevalecer
Sobre as pessoas, cifrões!
Quanto elevam, entretanto,
Logo derrubam também...
À glória quem a sustém
E ao vencedor o seu canto!
-- Mais tudo que lhe convém...
Assim assistem o mundo
Como fosse um espetáculo
Onde o herói segue o oráculo
A superar sem segundo
Obstáculo após obstáculo!
São plateia, nunca palco.
Onde ora aplauso; ora vaia,
Àquele que sobressaia.
Té' que encanecido e glauco
Do Poder Supremo caia...
Observam, em todo caso,
Todas as dores do mundo,
Seguros de que no fundo
Vivamos todos ao acaso
N'um planeta moribundo.
Se entretidos co'a verdade
Comprometem-se com nada,
Apenas passam da idade
Assistindo a Humanidade
Lá de sua encruzilhada.
Betim - 15 11 2019