CIHUACÓATL – a mulher chorona: a chorona do lago

_______________________________ a chorona do lago

X

“Quem será esta que avisto,

Por sobre as águas do lago!?”

-- “Quem vem lá?” –- eu mais indago.

-- “Quem lá vem?” – ainda insisto.

“És ser d’outro mundo ou mago?!”

XI

Só o vento, frio e pressago,

Ora à minha voz responde.

Na noite escura s’esconde

Aquele ser tão aziago

Vindo não se sabe d’onde.

XII

-- “Mais às profundezas sonde

À procura da verdade!" –

Berrava para a entidade

Ainda que a mesma estronde

Sismos fendendo a cidade.

XIII

Nas ondas, a claridade

Se aproximou lentamente.

Mas, incertos se alma ou gente,

Fomos em comunidade

Co’os sacerdotes na frente:

XIV

O mais velho simplesmente

Calou-se contemplativo.

Ainda que sem motivo

Ou outra razão aparente

De tão súbito emotivo:

XV

-- “É Cihuacóatl! Eu vivo

A escutar de nosso fim..." –

De facto, irrompe ela assim

Clamar do povo cativo

Ao soar d’estranho clarim:

XVI

-- “Ai, meus filhos! Ai de mim!

Aonde os levarei, de resto,

Por de destino tão funesto

Poderem fugir enfim?

Só a lamentos me presto!...”

XVII

E abria os braços n’um gesto

Que abarcava toda a vila...

Triste visão à pupila,

Clamando em seu só protesto

Desde a lagoa tranquila.

XVIII

Nas águas o luar cintila

E o vento frio do Norte

Envolvente, agudo e forte,

Sobre as campinas siliba

Augúrios de dor e morte.

XIX

Advertidos da má sorte,

Antes que o mal se consuma

Fomos ter com Montezuma,

Anunciar em sua corte

As profecias, uma a uma:

XX

-- “Alteza, como costuma

A deusa ao povo falar,

Cihuacóatl a prantear

É vista em meio à bruma

Vossa desgraça anunciar.”

XXI

“Conta que vêm pelo mar

Gentes mais sábias e antigas,

Que muito embora inimigas

Com poucos irão triunfar

Quer com finezas; quer brigas.”

XXII

“Vossas alianças e ligas

Que haveis na paz e na guerra

-- A expandir do mar à serra

Com glórias e com fadigas

A ordem dos céus sobre a terra” –

XXIII

“Caem sob a treva que aterra

Os homens em confusão

E os faz perdidos em vão:

Sois império que s’encerra

Na mais plena escuridão!...”

XXIV

“Por tal, reporto a visão

De sacerdotes e povo

Que têm, de novo e de novo,

Visto da deusa o clarão

N’estes versos que vos trovo.”