CORDEL DA LUA DE SANGUE E DO SOL ENCARNADO / Terceira Parte: EM NARRATIVA
Terceira Parte:
EM NARRATIVA
De que servem os artistas
Os poetas, os romancistas
E os contadores de histórias,
Senão a elevar heróis?
Com inventadas memórias
Exaltando as suas glórias
Entre rubros arrebóis!...
Historiar é encontrar
Onde os actos têm lugar
E onde o herói se movimenta
Em plena metamorfose:
Muito sofre, pena, tenta,
Perde, ganha, luta e enfrenta
Até a sua apoteose!...
Há-que pôr em narrativa
Quanto bem ou mal se viva
Por o que, como, quando e onde...
Em tempo e espaço cobertos,
Vastas questões responde
Ao dispor o que s'esconde
Como se livros abertos.
Mas dizem que o bom enredo
Surpreende, quer triste ou ledo,
Até o próprio escritor!...
Que uma história bem contada
É a que do início ao fim
Lê-se a varar madrugada,
Mantendo a mente encantada
Como fosse mesmo assim.
E que cada personagem
Nos traz alguma mensagem
Do que seja estar e ser.
E de tanta humanidade
Se lhe possa perceber,
Em cada lance a vencer
Por fim, a sua verdade.
Quer d'aqui ou de nenhures
Aonde algures e alhures
Nos leva a imaginação,
A história nos transporte
Pelas voltas da ficção
Com razão mais emoção
Para além de vida e morte.
Lua e sol ponho em cordel
Para um eclipse no céu,
Além de nos encantar,
Iluminar nossas vidas.
E ‘inda desmistificar
Lendas que tomam lugar
De verdades conhecidas.
Quem quiser manipular
A fé do povo em lugar
De se procurar respostas,
Tenha ao menos a visão
De que a sua opinião
É igual a outras apostas:
Se Deus mesmo ninguém viu
E da morte não se ouviu
Qualquer palavra de volta,
Tudo é especulação!...
Sem mais, fica só revolta
Ou lamento que nos solta
Por angústia o coração.
* * *