ATACAMA
Os cães ladram para a estrada...
Logo, latem para o nada.
O caminho foi desfeito:
Portanto, veja, deito, deito
Fora todas as amarguras,
Com elas, as ternuras.
Um verdadeiro Atacama
Desaba-me sobre a cama!
Entrevejo cordilheiras
Em cada de minhas olheiras,
Mas os olhos estão secos,
Todos os caminhos dão em becos.
Não serei antes nem agora,
Tampouco sei o que serei amanhã...
Nunca sei de seis ou seios;
Pouco dou-me com o que esteja lá fora.
Não há coaxos de sapos e rãs
Nesta secura da qual me permeio.
13/5/18 OBS: Costumo incorporar outras pessoas como narradoras poéticas; nesse, o narrador tem síndrome de Asperger leve, ele sente pouco, mas pensa muito. Ao mesmo tempo, fundido a ele, um homem que envelhece e aos poucos se desilude e sua vida vai sendo tomada pelo deserto, a secura se propaga, isso é necessário, pois o deserto é um local que pode e deve ser habitado...isso é fundamental, não há mais espaço para saudade, dor, amor, é preciso secar-se de tudo para adaptar-se a um meio inóspito.