A CASA DE BARRO
A CASA DE BARRO
Por Roosevelt Vieira Leite
A casa de barro de minha cunhada é visitada nos finais de semana. Ela construiu as paredes de barro batido e varas de taipas retiradas das árvores da roça de seu pai. Lá, não há tijolos cozidos, lá, não há alvenaria forte que lhe dê suporte contra os intemperes da natureza.
A casa de minha cunhada é uma beleza, pois sua firmeza é seu sonho; sua aventura mental no quintal de seus país me seduzem como os olhos de uma moça cheia de esperanças a olhar para estrada que passa logo perto.
A casa de barro que fica próximo da serra de Itabaiana, nas proximidades da estrada da barragem tem igualmente de barro seu piso, e quando chove vira ele argila molhada, terra ensopada como as almas que caminham pelo mundo.
Não sei, mas, o barro é como gente; ora duro, ora mole, ora arte ou coisa repugnante, tanto um como o outro se completam como o traçado das ripas que sustentam seu telhado.
Vai mocinha, leva a cabacinha de mel, acende a vela e deixa teu pedido no pé da parede!
Assim, sonham as moças do agreste. Sua pele e suas vestes são salpicadas por gotinhas de alegria e dores. Seja um ou o outro todo mundo termina sempre no barro velho, que fica ali bem pertinho de ti. Este é o lugar onde sucumbem todos os favores.
A casa de barro que fica no Brito, na propriedade de seu pais é silêncio e grito. É calmaria e tempestade, e isto nada tem a ver com o tempo, o relógio ou a idade. É a força do chão que não tem paixão por ninguém, só formigas, húmus ou o resto de quem passou por aqui.
A casa de barro é tua amiga na cidade; naquele apartamento por vezes cruel cheio de sombras e vozes que ecoam nas estruturas frias tão bem calculadas por mentes inteligentes.
A casa de barro é campo, é cidade, é uma metáfora necessária, ou uma conta atrasada de condomínio.
A casa de barro onde acordam os homens tem aço. Mas a da serra não dá, eu não disfarço de sua vontade, mas, aço não! Nesta casa de barro o aço vira carne e o plástico nervo esticado que sente a presença dos vermes que há na terra. Nesta casa tão bem firmada e erguida não há espaço, exceto, para os que acordam bem cedo para olharem o sol que mima a lua na sua despedida. Sonhar é preciso, acordar também.
Deixa menina tua espada aqui e vai até a casa de barro que fica na roça de seu Zé!
Todo ferro foi jogado fora, e embora foram os pesadelos das cobras que descansam escondidas em suas locas espalhadas por todo canto. Onde há barro, não deve ter ferro, e onde tem ferro tem também berro, o berro dos que descem a ladeira rumo ao asfalto desalmado que eu e você pôs por aí.
Em todo parte tem casa de barro. Em toda parte tem chão de barro, mas, não como a casa de minha amiga que mora na pequena cidadezinha no interior de Sergipe. Este barro é vermelho; ele é um espelho de todos que passam por aqui...