DE RENOME
DE RENOME
De certo, alguém que não eu,
N'um lugar que não aqui,
Viverá do qu'escreveu,
Não d'aquilo qu'escrevi,
Guardando quanto for meu.
Este autor bem sucedido
-- Ou de renome, como convém --
Sê-lo-á por ter-me lido,
Mas aprendido também
A fazer-se conhecido.
Eu, que vivi mal e obscuro,
N'uma terra obscura e má,
Pouco sei do meu futuro,
Mas do seu sei que será
Melhor do que ora asseguro.
Pois, se vier me conhecer
Pelos maus versos que faço,
Quererá de bem querer
Buscar os seus sem cansaço
E ainda me bendizer:
-- "Alguém que escreve poesia
Da qual não se ouve falar
É bem melhor companhia
Que outro que for singular
Por renome e fantasia."
Betim - 16 12 2017