ENTRE FADAS
ENTRE FADAS
Doura às nuvens d'horizonte
Um sol nascente invernal,
Que vindo detrás do monte
Mostra a paisagem irreal
De colinas neblinadas.
Era íntima soledade
Onde encontro a fantasia:
A caminho da cidade,
Milhões de fadas eu via,
Como se luzes aladas!
De facto, ao nascer do sol
O mundo queda silente.
'Té n'orvalho o caracol
Para quando, de repente,
Fadinhas são despertadas.
Brincam no pólen das flores;
Voltejam dentes-de-leão...
A reluzir multicores
Asas da imaginação
Pelas manhãs encantadas.
Vêm e vão borboletando
E pousam de asas luzindo.
Até que de vez em quando
Voam o bailado mais lindo,
Nas auroras serenadas...
-- "Vinde folgar, minhas manas,
Sem qualquer reserva já!
Tão peraltas, doidivanas,
Voejai aqui e acolá...
Vinde, lindas! Vinde, amadas!..." -
Aquela às demais comanda
E de todas quer-se rainha,
Cantando a rodar ciranda:
... "Se esta rua fosse minha,
Tinha pedras ladrilhadas"...
Os mais diversos folguedos
Estes serzinhos brilhantes
Sempre tão belos, tão ledos,
Enchendo os ares errantes
Das minhas sós madrugadas.
Assim folgava eu também,
Absorto tão-só a vê-las.
E embora fossem d'Além
Ou dimensões paralelas
Eram ali admiradas.
Pois ver o que não se vê
E rir do que não existe
Alegra aquele que crê
Ou ao menos faz menos triste,
Enquanto está entre fadas.
Betim - 10 08 2018