DIVINO LUME
DIVINO LUME
Observa as estrelas de perto
certo de que n'algum canto
Luz ainda indescoberto
de Deus o seu lume santo...
E investiga o espaço aberto
-- decerto errado ou nem tanto --
Tendo o espírito deserto,
perto já do desencanto:
Galáxias conta aos zilhões
mais quasares a pulsar
E imensas escuridões...
Supernovas ou a findar,
Formando constelações...
Mas nada de se encontrar
D'entre tantas posições
onde Deus tenha lugar.
O Universo em plenitude,
porque físico e sensível
Mais diversamente ilude
-- quase não inteligível!... --
Na inumana solitude,
quando nada mais é crível
Já não espera que o ajude
o Onipotente invisível.
Atravessa a noite em claro
e madruga inopinado,
Em vista do desamparo
d'estar à morte fadado,
Mas não viver d'ela ignaro...
E Deus, onde tem estado?
Aquele ilustre e preclaro,
que nunca fora encontrado!
O sol nascia no horizonte
quando vira sem querer
Na luz que dourava o monte
uma epifania haver,
Também se lhe ardia a fronte
ou se não podia ser
Que uma luz na luz desponte
Para que o pudesse ver.
E então vê por toda parte
àquele lume santo a esmo!
Tudo em volta jaz, destarte,
como se ouro n’outro sesmo.
Mas, haja quanto houver de arte
em derredor d’ele mesmo,
Dentro de si se reparte
em mil partes de si mesmo.
Seja como for, contudo,
Deus fez lá sua morada.
Ali, boquiaberto e mudo,
Vê a terra iluminada...
Vê cada coisa a miúdo
sobretudo, essa jornada;
Esse nada que é tudo...
na quietude em meio ao nada!
Galileia - 10 12 1994