VÍTIMA DAS VÍTIMAS

Psiu... aqui é a natureza,

a qual, em minha paisagem,

fizeste tanta proeza

e tão pouca reciclagem.

Antigamente ia lenta

isenta em prol da corrente

dolente em meio a tormenta...

só que agora estou doente.

Meu resfolegar é o vento

feito a Cruz do Redentor,

e causa arrebatamento

tal qual a Ira do Senhor.

Meu tremor sacode o chão

de subúrbio ou de cidade,

mas também gera a união

e a solidariedade.

Meu pranto, ainda que fino,

quando choro um pouco mais,

faço emergir submarino

e submergir litorais.

Casas feitas em encostas

ou em meio as minhas entranhas

causam feridas expostas

no espinhaço das montanhas.

Meu inverno é primavera

e meu outono é verão

poluíram a atmosfera

causa desta distorção.

Meu transpiro, para a arte, é

feito efeito especial

quando ultrapassa o sopé

da montanha em tons coral.

Meus rios e cachoeiras

tornaram-se itaipus,

depósitos de sujeiras

e pastagens de urubus.

Centenárias são as toras

que extraem as madeireiras,

momentâneas são as horas

que as consomem as lareiras.

Mão que embalara meu berço,

toda essa calamidade

é só metade de um terço

do fim da terça metade.