CENA COLONIAL

Não pensava João em nada,

cavalgando pela estrada

sob o sol do meio-dia.

Ia quieto no alazão,

cujos cascos contra o chão,

do caminho, o pó erguia.

Margeando a ribanceira

logo à frente sua porteira

avistou aberta a meio.

E Teresa ao lado dela,

carregando uma gamela,

com um pote junto ao seio.

A mulher, vendo o patrão,

acenou-lhe com a mão,

baixando gamela e pote.

Também ele lhe acenou

e sua rédea repuxou,

diminuindo um pouco o trote.

Olhava para Teresa,

calculando a sua beleza

de mulher ainda moça.

E perguntou do cavalo,

sem sinal de desmontá-lo:

“teu marido... tá na roça?”

A jovem disse que sim,

que até o dia não ter fim

Suava Simão no sol bravo.

“Essa tal de bulição

pode ter soltado a mão,

a cabeça – é de escravo.”

Um minuto bem se fez

enquanto o homem, na mudez,

formulava um torpe plano.

E já pressentindo o mal,

segue, a moça, o animal

que levava o soberano.

Pouco a dupla prosseguiu...

até um corredor vazio

se ofertar no canavial.

O patrão pulou da sela,

já despindo o corpo dela

com um ímpeto bestial.

Sem manter qualquer orgulho,

contra o chão de pedregulho

Teresa deitou as costas.

Insensível ao desconforto,

só em si, ele absorto,

do demônio - dava amostras.

Satisfeita sua loucura

deixa a negra em terra dura,

ao cavalo, retornando.

E da estrada da ribeira

uma nuvem de poeira,

para o céu foi se elevando.

Nove meses transcorridos

visitavam, aturdidos,

o menino dado à luz.

E ao deixar a casa pobre,

cada qual o peito cobre,

após um sinal da cruz.

O povo da redondeza

maldizia de Teresa,

pelas prosas do caminho.

“Era coisa do chifrudo!

Já se viu preto parrudo

ter um filho bem branquinho?”

Alexandre Basso
Enviado por Alexandre Basso em 17/08/2014
Reeditado em 06/06/2022
Código do texto: T4925650
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