PATHOS

O que ocorrerá comigo

que me sinto sem abrigo

quando fico junto dela?

Muito a quero – mas se a vejo,

não me sobra outro desejo

que furtar-me a estar com ela.

Até o instante em que me evado

só anseio, atormentado,

escapar dos olhos seus.

E antes mesmo que lhes fuja,

meu desejo já se suja

nos remorsos desse adeus.

Ah, se vivesse meus anos

sem os momentos insanos

que me esperam pela frente...

Penso, porém, no futuro,

e só vejo o vácuo escuro:

nada de bom se pressente...

Para sempre sofrerei!

Resume-se a dor na lei

de uma só contradição:

pois no rosto por que vivo,

deixou Deus meu lenitivo,

mas também a perdição.

O meu dia gasto nela,

fixando a figura bela

que tanto prazer me dá.

Na perfeição do seu rosto,

quis Deus que ficasse exposto

tudo que de mais belo há.

E nas noites, solitário,

quando o meu anseio vário

angustia o coração,

como posso achar ainda

que essa mesma face linda

guarda a minha salvação?

Ah, complacente adorada,

na mudez da madrugada

vens para me amar em sonho!

Satisfaz-me os vis desejos,

vertendo da boca, beijos,

no meu ser todo risonho.

Mas cessada a sua visita,

triste, esbarro na desdita,

que é viver sem seu amor...

E o resto do dia passo,

desejando seu abraço,

calculando o seu sabor...

Alexandre Basso
Enviado por Alexandre Basso em 12/08/2014
Reeditado em 12/08/2014
Código do texto: T4919068
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