À DERIVA
Meu torso é dourado
pois o sol, dobrado,
tem duplo queimar.
Duas vezes cruel:
abrasa no céu,
se espelha no mar.
Valente marujo,
das brigas – não fujo,
dos fracos – me apiedo.
Sou bom e tirano,
cresci no oceano:
o mar é meu credo.
Quem vive no mar
só fala consigo,
não tem um amigo,
nem tem quem amar.
Eu amo as estrelas
e a lua, nas velas,
deitando o luar.
Não tenho anseios
nos meu devaneios:
eu vivo no mar!