Xiquexique do meu sertão
I
Eu sou um vaqueiro pobre,
Trabalho para o patrão.
Carrego a grande ilusão
De ficar rico, ser nobre.
Não por causa do dinheiro,
Do que ele pode comprar...
É porque vivo a sonhar
Com um amor verdadeiro.
II
Quando vou atrás do gado,
Sem cabaça, sem cantil,
Os rios secos no estio
Deixam marcas do traçado.
A levada não tem dique,
Mas eu conheço o sertão:
Lanço mão do meu facão
E recorto um xiquexique.
III
Encontro o reservatório
De água pura, mitigante
Que alivia num instante,
Meu anseio compulsório.
Isso me leva a pensar
Num sentimento que marca
Que me afeta, quem nem barca
Na iminência de afundar.
IV
Eu sou um pobre vaqueiro
Que não tem nada, mas tem
Cá no peito, um grande bem,
Um sentimento fagueiro;
Que não me faz desistir
De ter aquela morena-
Olhar belo, voz serena-
Razão do meu existir.
V
Ela é filha do patrão;
Seus olhos cruzam os meus,
Dizem ao meu coração
Que me ama, graças a Deus.
Embora seja difícil
Eu pensar que vai dar certo,
Meu pensamento é liberto
E vivo esse sacrifício.
VI
Ela está longe de mim;
Estou trabalhando duro.
Vou derrubar esse muro
Que nos mantém longe assim.
Eu sou forte, tenho pique;
Minha sede de vontade,
De desejo e de saudade,
Não me leva ao alambique.
VII
E se o rio da esperança
Baixa as águas, quer secar,
Basta só eu me lembrar
Daquela moça de trança.
Mesmo que a tristeza fique
Me empastando o coração,
Esperança: - Meu facão;
Meu amor: - É xiquexique!