Xiquexique do meu sertão

I

Eu sou um vaqueiro pobre,

Trabalho para o patrão.

Carrego a grande ilusão

De ficar rico, ser nobre.

Não por causa do dinheiro,

Do que ele pode comprar...

É porque vivo a sonhar

Com um amor verdadeiro.

II

Quando vou atrás do gado,

Sem cabaça, sem cantil,

Os rios secos no estio

Deixam marcas do traçado.

A levada não tem dique,

Mas eu conheço o sertão:

Lanço mão do meu facão

E recorto um xiquexique.

III

Encontro o reservatório

De água pura, mitigante

Que alivia num instante,

Meu anseio compulsório.

Isso me leva a pensar

Num sentimento que marca

Que me afeta, quem nem barca

Na iminência de afundar.

IV

Eu sou um pobre vaqueiro

Que não tem nada, mas tem

Cá no peito, um grande bem,

Um sentimento fagueiro;

Que não me faz desistir

De ter aquela morena-

Olhar belo, voz serena-

Razão do meu existir.

V

Ela é filha do patrão;

Seus olhos cruzam os meus,

Dizem ao meu coração

Que me ama, graças a Deus.

Embora seja difícil

Eu pensar que vai dar certo,

Meu pensamento é liberto

E vivo esse sacrifício.

VI

Ela está longe de mim;

Estou trabalhando duro.

Vou derrubar esse muro

Que nos mantém longe assim.

Eu sou forte, tenho pique;

Minha sede de vontade,

De desejo e de saudade,

Não me leva ao alambique.

VII

E se o rio da esperança

Baixa as águas, quer secar,

Basta só eu me lembrar

Daquela moça de trança.

Mesmo que a tristeza fique

Me empastando o coração,

Esperança: - Meu facão;

Meu amor: - É xiquexique!

Jarrê
Enviado por Jarrê em 14/03/2014
Código do texto: T4728810
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.