Festa no céu (décima de cordel em redondilha maior)
Hoje tem festa no céu,
É dia santificado,
Daniel foi convidado,
Pra fazer papel de réu.
Então tirou o chapéu.
Desatou na cantoria,
Saudou Jesus e Maria
Em nome de Zé Limeira,
Destilando a noite inteira
Seu veneno em homilia.
Versejou, com maestria,
Seus versos cadenciados,
Pediu perdão dos pecados,
Com tanta sabedoria,
Que ganhou, de cortesia,
Do santo frei Damião,
Uma cota de perdão
Pro pecado da cobiça,
E a dispensa da missa
Muito antes do sermão.
Como reza a tradição,
Também foi abençoado,
E recebeu atestado
De vacina contra o cão;
Diploma de bom cristão,
Com adendo meritório;
Dispensa do purgatório,
Se sofrer morte morrida,
Madeira de lei curtida,
Para o caixão do velório.
Terminado o ofertório,
Se arriscou na folia.
Agarrou santa Sofia...
Ajustou o suspensório...
Conferiu o repertório
De Azulão a Zé limeira:
Só cantador de primeira,
A nata do improviso,
Salvo melhor juízo,
Da cultura brasileira.
Como era sexta-feira
O céu ficava lotado,
Arcanjo pra todo lado,
Uma beata faceira...
Daniel e Zé Limeira
Se agarraram no repente:
Soltaram a língua no dente,
E as unhas na viola.
Beatas gastavam a sola
Dançado a dança do ventre.
Eita! Dupla competente!
Eita! Cordel afinado!
Respeitoso, complacente,
De verso metrificado.
Sem sequer um pé quebrado
Pra num perder o compasso.
Entre bofete e abraço,
Melaço, mel e pimenta,
Labareda e água benta,
Não curvaram o espinhaço.
Quando um jogava o laço
O outro apertava o nó,
Nenhum mostrava cansaço,
Nem do outro tinha dó...
Garnizé e carijó,
Cada um mais destemido,
Catavam em sustenido
Com acorde em mi bemol,
Usando a clave de sol
Pra aguçar o ouvido.
Os querubins comovidos
Gritavam queremos bis
Meio à meio, divididos,
Cada um o mais feliz.
Deus do céu o grã juiz,
Pois é o dono do céu,
Também tirou o chapéu
Ao arbitrar o repente
E disse, solenemente,
Nenhum dos dois vai ser réu.
Zé Limeira e Daniel,
Foram sim abençoados,
Ganharam tinta e papel,
E perdão para os pecados.
Além de condecorados
Embaixadores divinos
Para assuntos celestinos,
Junto à torre de Babel,
Pê-agá-dê em cordel,
em repentes nordestinos.
Deus descascou o pepino
Com divina sapiência:
Juntou padre com rabino
Numa breve audiência;
Assuntou com paciência
Cada uma opinião,
E pelo sim, pelo não,
Com sua mão brasileira,
Pra Daniel e Limeira
Deu fama de campeão.
Hoje tem festa no céu,
É dia santificado,
Daniel foi convidado,
Pra fazer papel de réu.
Então tirou o chapéu.
Desatou na cantoria,
Saudou Jesus e Maria
Em nome de Zé Limeira,
Destilando a noite inteira
Seu veneno em homilia.
Versejou, com maestria,
Seus versos cadenciados,
Pediu perdão dos pecados,
Com tanta sabedoria,
Que ganhou, de cortesia,
Do santo frei Damião,
Uma cota de perdão
Pro pecado da cobiça,
E a dispensa da missa
Muito antes do sermão.
Como reza a tradição,
Também foi abençoado,
E recebeu atestado
De vacina contra o cão;
Diploma de bom cristão,
Com adendo meritório;
Dispensa do purgatório,
Se sofrer morte morrida,
Madeira de lei curtida,
Para o caixão do velório.
Terminado o ofertório,
Se arriscou na folia.
Agarrou santa Sofia...
Ajustou o suspensório...
Conferiu o repertório
De Azulão a Zé limeira:
Só cantador de primeira,
A nata do improviso,
Salvo melhor juízo,
Da cultura brasileira.
Como era sexta-feira
O céu ficava lotado,
Arcanjo pra todo lado,
Uma beata faceira...
Daniel e Zé Limeira
Se agarraram no repente:
Soltaram a língua no dente,
E as unhas na viola.
Beatas gastavam a sola
Dançado a dança do ventre.
Eita! Dupla competente!
Eita! Cordel afinado!
Respeitoso, complacente,
De verso metrificado.
Sem sequer um pé quebrado
Pra num perder o compasso.
Entre bofete e abraço,
Melaço, mel e pimenta,
Labareda e água benta,
Não curvaram o espinhaço.
Quando um jogava o laço
O outro apertava o nó,
Nenhum mostrava cansaço,
Nem do outro tinha dó...
Garnizé e carijó,
Cada um mais destemido,
Catavam em sustenido
Com acorde em mi bemol,
Usando a clave de sol
Pra aguçar o ouvido.
Os querubins comovidos
Gritavam queremos bis
Meio à meio, divididos,
Cada um o mais feliz.
Deus do céu o grã juiz,
Pois é o dono do céu,
Também tirou o chapéu
Ao arbitrar o repente
E disse, solenemente,
Nenhum dos dois vai ser réu.
Zé Limeira e Daniel,
Foram sim abençoados,
Ganharam tinta e papel,
E perdão para os pecados.
Além de condecorados
Embaixadores divinos
Para assuntos celestinos,
Junto à torre de Babel,
Pê-agá-dê em cordel,
em repentes nordestinos.
Deus descascou o pepino
Com divina sapiência:
Juntou padre com rabino
Numa breve audiência;
Assuntou com paciência
Cada uma opinião,
E pelo sim, pelo não,
Com sua mão brasileira,
Pra Daniel e Limeira
Deu fama de campeão.