Vaqueiro

I

Sou um versejador mouro,

Vim aqui para correr.

Nessa festança de touro,

Respeito o chapéu de couro,

Mas quero mesmo é vencer.

II

De couro é minha jaqueta,

A malva seca se entorta

Vaqueiro e cavalo: um só

Cinzentos, da cor do pó;

Vara vereda, abre porta.

III

Não tenho medo do mato,

São fortes os santos meus.

É meu mister, minha lida...

Só tenho medo na vida,

Dos castigos de meu Deus.

IV

Vou buscar mais um nelore,

Um pé duro, ou um zebu...

De longe ouço o tililim,

Quebra quebra no capim,

A galhada e o forte “Muuu”.

V

Tropel, batuque de cascos;

Novilhos no mato ralo.

Meu coração feito um bumbo;

A touceira de mufumbo

Deita-se aos pés do cavalo.

VI

Agarro os chifres do touro

Preto e da vaca malhada,

Que fugiram da invernada

E estão lá no bebedouro,

Junto da branca amojada.

VII

Levo-os para o matadouro;

Mas, antes da debandada,

Faço uma cena ensinada:

Seguro o líder do estouro,

Que os outros não fazem nada.

VIII

Ao vencedor, resta o louro;

Fizemos o boi valer.

A nossa carreira é de ouro:

Se agarrar no tombadouro,

O touro não vai vencer.

Jarrê
Enviado por Jarrê em 09/03/2014
Código do texto: T4721944
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