Vaqueiro
I
Sou um versejador mouro,
Vim aqui para correr.
Nessa festança de touro,
Respeito o chapéu de couro,
Mas quero mesmo é vencer.
II
De couro é minha jaqueta,
A malva seca se entorta
Vaqueiro e cavalo: um só
Cinzentos, da cor do pó;
Vara vereda, abre porta.
III
Não tenho medo do mato,
São fortes os santos meus.
É meu mister, minha lida...
Só tenho medo na vida,
Dos castigos de meu Deus.
IV
Vou buscar mais um nelore,
Um pé duro, ou um zebu...
De longe ouço o tililim,
Quebra quebra no capim,
A galhada e o forte “Muuu”.
V
Tropel, batuque de cascos;
Novilhos no mato ralo.
Meu coração feito um bumbo;
A touceira de mufumbo
Deita-se aos pés do cavalo.
VI
Agarro os chifres do touro
Preto e da vaca malhada,
Que fugiram da invernada
E estão lá no bebedouro,
Junto da branca amojada.
VII
Levo-os para o matadouro;
Mas, antes da debandada,
Faço uma cena ensinada:
Seguro o líder do estouro,
Que os outros não fazem nada.
VIII
Ao vencedor, resta o louro;
Fizemos o boi valer.
A nossa carreira é de ouro:
Se agarrar no tombadouro,
O touro não vai vencer.