Que possamos viver em paz com as nossas diferenças, pois niguém é tão singular, que não tenha (seja um pensamento) algo em comum
O duelo de cordel entre Cristão e Ateu
—Quem não crê no Pai eterno
e no Cristo, o redentor,
vai direto pro inferno,
seja beócio ou doutor.
Pois o Pai, Nosso Senhor,
quando perde a compostura,
jubila da criatura
o direito de perdão,
e põe no bolso do cão
as chaves da sepultura.
—Vê se deixa de frescura,
seu puxa-saco de Deus,
pois conheço as escrituras
dos cristãos e dos judeus:
está escrito em Mateus
e também no alcorão,
que a prole de Adão,
(desde Caim e Abel)
já escrevia cordel,
em elegia pro cão.
—Tu tens muita pretensão,
seu ateusinho de nada!
Só quem tem religião,
lê a bíblia sagrada,
pode encontrar a estrada
que leva ao reino do céu.
Seu matuto tabaréu,
comedor de redondilha,
se tu bufar na setilha,
te mando pro beleléu.
—Então retire o chapéu,
seu beato duma figa!
tu vais é viver ao léu
antes do fim dessa briga,
pois eu vou, à moda antiga,
te cozinhar na vasilha
com os ovos da virilha
e as dobras do pescoço,
até espelir o troço
pelo botão da braguilha.
—Tu és um cão sem matilha,
um cordeiro sem pastor,
que se exilou numa ilha
onde só tem pecador.
Mas, em nome do amor,
da paz e da compaixão...
pra manter a tradição
da família de Maria,
em nome da poesia,
evoco a Deus teu perdão.
E, assim, Ateu e Cristão,
dois poetas de cordel,
pelo instinto ou razão,
cada um no seu papel,
feito a abelha e o mel;
o estio e o sertão,
o discurso e o sermão;
a poesia e a prosa...
feito o espinho e a rosa
vivem hoje em comunhão.
O duelo de cordel entre Cristão e Ateu
—Quem não crê no Pai eterno
e no Cristo, o redentor,
vai direto pro inferno,
seja beócio ou doutor.
Pois o Pai, Nosso Senhor,
quando perde a compostura,
jubila da criatura
o direito de perdão,
e põe no bolso do cão
as chaves da sepultura.
—Vê se deixa de frescura,
seu puxa-saco de Deus,
pois conheço as escrituras
dos cristãos e dos judeus:
está escrito em Mateus
e também no alcorão,
que a prole de Adão,
(desde Caim e Abel)
já escrevia cordel,
em elegia pro cão.
—Tu tens muita pretensão,
seu ateusinho de nada!
Só quem tem religião,
lê a bíblia sagrada,
pode encontrar a estrada
que leva ao reino do céu.
Seu matuto tabaréu,
comedor de redondilha,
se tu bufar na setilha,
te mando pro beleléu.
—Então retire o chapéu,
seu beato duma figa!
tu vais é viver ao léu
antes do fim dessa briga,
pois eu vou, à moda antiga,
te cozinhar na vasilha
com os ovos da virilha
e as dobras do pescoço,
até espelir o troço
pelo botão da braguilha.
—Tu és um cão sem matilha,
um cordeiro sem pastor,
que se exilou numa ilha
onde só tem pecador.
Mas, em nome do amor,
da paz e da compaixão...
pra manter a tradição
da família de Maria,
em nome da poesia,
evoco a Deus teu perdão.
E, assim, Ateu e Cristão,
dois poetas de cordel,
pelo instinto ou razão,
cada um no seu papel,
feito a abelha e o mel;
o estio e o sertão,
o discurso e o sermão;
a poesia e a prosa...
feito o espinho e a rosa
vivem hoje em comunhão.