Aos meus sessenta e seis fevereiros
Meu coração tá vexado,
tá derrapando no peito;
não sei se tá com defeito,
se tá inteiro ou quebrado;
nem sei ao certo que lado,
que o danado sacoleja:
se no frescor da cerveja
ou no calor da emoção.
Quem sabe meu coração
tem muito mais que deseja!
Minha cabeça peleja,
atrás do meu coração,
(que nem o trigo e pão)
aonde quer que ela esteja:
no apogeu, na bandeja,
nas nuvens, no dia a dia,
na prosa, na poesia,
no purgatório ou no céu,
num repente de cordel
ou na quinta sinfonia.
Minh’alma torta inda expia
seus pecados de nascença:
a ousadia, a descrença,
a arte, a filosofia...
e a discreta ironia
dos poetas de cordel,
capaz de levar pro céu
o mais rebelde demônio
e selar o matrimônio
entre grafite e papel.
Meu corpo tá que é só mel,
no bico dum passarinho,
a mendigar o carinho
da juventude infiel.
Não fosse esse menestrel
um poeta nordestino,
a mão cruel do destino
já me teria enforcado.
Hei de viver um bocado
na contramão do divino.
Minha verve de menino
rumina em meu coração:
minha cabeça diz não,
minha alma toca o sino
e o corpo vai, sol a pino,
em busca dum novo abrigo:
o ombro dum velho amigo
que enxugou algum dia
o pranto da poesia
que hoje chora comigo.
Meu coração tá vexado,
tá derrapando no peito;
não sei se tá com defeito,
se tá inteiro ou quebrado;
nem sei ao certo que lado,
que o danado sacoleja:
se no frescor da cerveja
ou no calor da emoção.
Quem sabe meu coração
tem muito mais que deseja!
Minha cabeça peleja,
atrás do meu coração,
(que nem o trigo e pão)
aonde quer que ela esteja:
no apogeu, na bandeja,
nas nuvens, no dia a dia,
na prosa, na poesia,
no purgatório ou no céu,
num repente de cordel
ou na quinta sinfonia.
Minh’alma torta inda expia
seus pecados de nascença:
a ousadia, a descrença,
a arte, a filosofia...
e a discreta ironia
dos poetas de cordel,
capaz de levar pro céu
o mais rebelde demônio
e selar o matrimônio
entre grafite e papel.
Meu corpo tá que é só mel,
no bico dum passarinho,
a mendigar o carinho
da juventude infiel.
Não fosse esse menestrel
um poeta nordestino,
a mão cruel do destino
já me teria enforcado.
Hei de viver um bocado
na contramão do divino.
Minha verve de menino
rumina em meu coração:
minha cabeça diz não,
minha alma toca o sino
e o corpo vai, sol a pino,
em busca dum novo abrigo:
o ombro dum velho amigo
que enxugou algum dia
o pranto da poesia
que hoje chora comigo.