MEU REINO HABITA UM CASTELO
Meu reino habita um castelo
Sem torres, vitrais nele candelabros não há
Não vivem reis e rainhas
Sortilégios das princesas?
Nem isso posso esperar
Esse reino não foi inspirado pela rima sertaneja
Muito menos nos barracos das favelas que o povo do samba vive a cantar
Esse castelo meio engraçado
Pinta-se com cal as paredes tortas,
Teto baixo, tijolos vermelhos
De fracas luzes amarelas que vivem piscar
Nos caminhos chuvosos trocamos os sapatos para barro não sujar
E nos dias de sol os irmãos deitam no chão
Para as velhas memórias refrescar
Rodeado de muralhas de velhos bambus para não machucar
Com um doce sereno e poeira de terra
À noite, ouvimos as orações das novenas
E o silêncio cansado do pai que nunca está
Conforto-me no sorriso de Ana
Sinto um mundo sem fama
Paro no hoje esperando ela voltar
Feito as preces dos meninos
Para lobisomem da rua passar
Para “Rosa Louca” não murmurar
Para “o homem do saco preto” não sugar
Para “Ligeirinho” ir devagar ,
E para melodias do “ sonheiro” que não para de cantar
Marca-se o tempo da alma
O tempo que não passa
Imaginação de pirraça , da vela seca na taça
, dos vôos mágicos dos vagalumes
que rasgam a noite que nas camisetas vão parar
Este reino habita em minha vida
Na aurora da vila, da cidade perdida
Das memórias que nunca irão se apagar.