É a Vida
Quando afino pensamento
a alma toda se afina
e uma luz vem à retina
dos confins do firmamento.
Compreendo no momento
que a treva a luz nos nega
nos prende e nos entrega
ao breu soturno e supremo
e ri do outro extremo,
pois luz demais também cega.
Com pálpebras meio unidas
num esforço me concentro
e mergulho corpo adentro
meio a campear outras vidas.
Sofro as dores renascidas
de reencarnada chibata.
O frio que encaranga e mata
é vento gelo de agosto,
tão semelhante ao oposto:
o calor que desidrata.
Exponho as rugas da testa
e a alma sofre amassada
qual a mente pisoteada
ao ver o mundo por fresta.
A voz entoa uma gesta
quando a pátria silencia.
A noite que engole o dia
na madrugada se enterra.
O rubro é sangue na guerra
e pétalas na poesia.
Abro os olhos, busco o tino,
mergulho na claridade
e flutuo na ansiedade
do inconstante destino.
Do acme eu examino
a dubiedade consorte.
E por mais que não suporte.
sei que não há exceção:
a vida é um corrimão
direto ao leito da morte.