É a Vida

Quando afino pensamento

a alma toda se afina

e uma luz vem à retina

dos confins do firmamento.

Compreendo no momento

que a treva a luz nos nega

nos prende e nos entrega

ao breu soturno e supremo

e ri do outro extremo,

pois luz demais também cega.

Com pálpebras meio unidas

num esforço me concentro

e mergulho corpo adentro

meio a campear outras vidas.

Sofro as dores renascidas

de reencarnada chibata.

O frio que encaranga e mata

é vento gelo de agosto,

tão semelhante ao oposto:

o calor que desidrata.

Exponho as rugas da testa

e a alma sofre amassada

qual a mente pisoteada

ao ver o mundo por fresta.

A voz entoa uma gesta

quando a pátria silencia.

A noite que engole o dia

na madrugada se enterra.

O rubro é sangue na guerra

e pétalas na poesia.

Abro os olhos, busco o tino,

mergulho na claridade

e flutuo na ansiedade

do inconstante destino.

Do acme eu examino

a dubiedade consorte.

E por mais que não suporte.

sei que não há exceção:

a vida é um corrimão

direto ao leito da morte.

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 26/07/2011
Código do texto: T3119871