À Morte de Um Poeta
Quando Morre um poeta
ficam seus versos escritos
e muitos temas bonitos
na poesia incompleta.
Acalma-se uma'lma inquieta
na busca de inspirações,
e suas belas canções
pelo pago estribilham
com lágrimas que fervilham
caídas sobre os tições.
Quando Morre um poeta
muitos recitam seus versos,
outros gritam no universo
o fim de sua cancha reta.
Dão a notícia completa,
a dor e o suor da lida.
Mexem na sua ferida,
contam sua desilusão
e fingem dar-lhe atenção
que não lhe deram na vida.
Quando Morre um poeta
cala uma voz criativa.
A sua poesia nativa
é abortada ou se embreta.
É num vazio que se aquieta
pelo silêncio engolida.
Morre antes de ter vida
numa folha de papel.
Como a Torre de Babel
é por Deus interrompida.
Quando Morre um poeta,
entre o choro há poesia.
O coração se esvazia,
de uma platéia seleta,
e uma cantiga discreta,
entre soluço e saudade
apaga a claridade
de um ser iluminado
que por Deus foi batizado
com poesia de verdade.
Quando Morre um poeta
o sonho meio se ofusca
e a realidade rebusca
outro rumo em sua seta.
Impõe a vida concreta
sem vazão pras ilusões,
e quer transformar canções
em coisas imagináveis.
Tenta tornar vulneráveis
as loucas inspirações.
Quando Morre um poeta
ficam ófãos seus poemas,
improdutivos seus temas
e inalcançável sua meta.
Fica uma obra completa
nas gavetas reviradas,
junto as folhas rabiscadas,
imagens de um sonhador.
Fica calado um cantor
por canções inacabadas.
Quando Morre um poeta
a poesia entristece.
A rima feia padece
por ter ficado incorreta
e a poesia indiscreta
prefere ser esquecida
por ter sido concebida
num momento de euforia.
Embora seja poesia
que jamais fora relida.
Quando Morre um poeta
há mais brilho nas estrelas,
mais calor para aquecê-las
e a noite fica mais quieta,
cheia de rima secreta,
de sonhos e fantasia,
transformando a poesia
em tão garboso matiz
e o céu se faz mais feliz
por sorver sua energia.
(Gravado no CD Pajadas e Poesias e publicado no do livro Pajador do Brasil- Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, de minha autoria)